quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Fisiologia do Estresse




Tendo em vista que o objetivo principal do Estresse é favorecer a adaptação do organismo, muitos autores chamam esse processo todo de Síndrome Geral de Adaptação. Essa síndrome foi inicialmente descrita por Hanz Selye e consiste em três fases sucessivas: Reação de Alarme, Fase de Resistência e Fase de Exaustão. Sendo que a última, Fase de Exaustão, é atingida apenas nas situações mais graves e, normalmente, persistentes. Vejamos uma a uma.

Como começa o Estresse?

O Estresse começa com a Reação de Alarme, esta se subdivide em dois estados, a fase de choque e a fase de contra-choque. As alterações fisiológicas na fase de choque, momento onde o indivíduo experimenta a ameaça ou estímulo adverso (estressor), são muito exuberantes (Quadro 1).

Durante a Reação de Alarme, o chamado Sistema Nervos Autônomo (SNA) participa ativamente do conjunto de alterações fisiológicas. Trata-se, este SNA, de um complexo conjunto neurológico que controla, autonomamente, todo o meio interno do organismo através da ativação e inibição dos diversos sistemas, vísceras e glândulas.

Durante a Fase de Choque da Reação de Alarme, que é como o susto inicial do estresse, predomina a atuação de uma parte deste SNA chamado de Sistema Simpático, o qual proporciona descargas de adrenalina da medula da glândula supra-renal e de noradrenalina das fibras pós-ganglionares para a corrente sanguínea. Alguns estudos mais recentes sugerem que a emoção da raiva, quando dirigida para fora, estava associada mais à secreção de noradrenalina. Entretanto, na depressão e a na ansiedade, onde os sentimentos estão dirigidos mais para si próprio, a secreção de adrenalina predomina.

QUADRO 1 - ALTERAÇÕES INICIADAS NA FASE DE CHOQUE DA REAÇÃO DE ALARME
ALTERAÇÕES

OBJETIVOS
a) aumento da frequência cardíaca e pressão arterial o sangue circulando mais rápido melhora a atividade muscular esquelética e cerebral, facilitando a ação e o movimento
b) contração do baço levar mais glóbulos vermelhos à corrente sanguínea e melhora a oxigenação do organismo e de áreas estratégicas
c) o fígado libera glicose para ser utilizado como alimento e energia para os músculos e cérebro
d) redistribuição sanguínea diminui o sangue dirigido à pele e vísceras, aumentando para músculos e cérebro
e) aumento da frequência respiratória e dilatação dos brônquios favorece a captação de mais oxigênio
f) dilatação das pupilas


para aumentar a eficiência visual
g) aumento do número de linfócitos na corrente sanguínea


preparar os tecidos para possíveis danos por agentes externos agressores


Ainda durante essa fase em que está havendo estimulação estressante aguda, uma parte do Sistema Nervoso Central denominado Hipotálamo promove a liberação de um hormônio, o qual, por sua vez, estimula a hipófise (glândula situada no assoalho do Hipotálamo) a liberar um outro hormônio, o ACTH. Este último ganha a corrente sanguínea e estimula as glândulas Supra-renais para a secreção de corticóides.

Como percebemos, toda a seqüência de acontecimentos tem origem no cérebro, e o Hipotálamo é que acaba disparando a sucessão de eventos orgânicos do Estresse. Ao mesmo tempo em que esse Hipotálamo está providenciando a estimulação da Hipófise para secreção do ACTH, também proporciona a secreção outros neuro-hormônios (hormônios produzidos no cérebro), tais como os chamados peptídeos cerebrais, como é o caso das endorfinas (que modificam o limiar para dor), STH (que acelera o metabolismo), prolactina e outros.

Passada a necessidade de Estresse, ou seja, desaparecendo os agentes estressores, todas essas alterações tendem a se interromper e regredir. Se, no entanto, por alguma razão o organismo continua sendo submetido à estimulação estressante, portanto, continua sendo obrigado a manter seu esforço de adaptação, uma nova fase acontecerá. Trata-se da Fase de Resistência.

Podemos nos acostumar ao Estresse ?

Durante algum tempo sim. É a chamada Fase de Resistência, a qual se caracteriza, basicamente, pela hiperatividade da glândula supra-renal sob influência do SNC através do Diencéfalo, Hipotálamo e Hipófise. É uma fase que surge quando persiste a ação do estímulo estressor e, nesse período, há um aumento no volume da supra-renal, concomitante a uma atrofia do baço e das estruturas linfáticas e um continuado aumento dos glóbulos brancos do sangue (leucocitose).

Se os estímulos estressores continuam, tornando-se crônicos e repetitivos, a resposta começa a diminuir de intensidade e pode haver uma antecipação das respostas. É como se o organismo se acostumasse com os estressores. Vamos imaginar, hipoteticamente, uma pessoa que se deparasse com uma cobra no meio de sua sala, quase todas as vezes que entrasse em casa. Com o tempo sua reação ao ver a (mesma) cobra tende a diminuir, embora ainda continue tomando muito cuidado.

Vai chegar um momento em que, mesmo não vendo a cobra, ficará estressado diante da simples possibilidade de encontrá-la. Talvez tenha grande ansiedade ao imaginar onde poderia estar hoje a tal cobra. Diz um ditado que a diferença entre medo e ansiedade é exatamente essa; medo é encontrar uma cobra dentro do quarto, e ansiedade é saber que deve ter uma cobra dentro do quarto. Continuando ainda o agente estressor o organismo vai à terceira fase da Síndrome Geral de Adaptação, a Fase de Exaustão.

Quando nos esgotamos ?

Nos esgotamos quando, por excesso de uso, começam a falhar os mecanismos de adaptação e déficit das reservas de energia. Essa fase é chamada de Esgotamento e é grave, podendo até levar à morte alguns organismos, notadamente alguns pássaros, animais silvestres mantidos em cativeiro... A maioria dos sintomas somáticos e psicossomáticos fica mais exuberante nessa fase.

Como se supõe, a resistência do organismo não é ilimitada. As modificações biológicas que aparecem nessa fase se assemelham aquelas da Reação de Alarme em sua etapa de choque mas, ao contrário desta, no esgotamento o organismo já não é capaz de equilibrar-se por si só e sobrevém a falência adaptativa.

O ESGOTAMENTO

O que favorece o Esgotamento ?

O que se entende por Esgotamento, estado que resulta da persistência crônica da ansiedade exagerada, pode ter origem em duas situações; uma por questões circunstanciais e outra por situações pessoais.

A primeira situação é quando um indivíduo emocionalmente normal tem que se adaptar a um estímulo (externo ou interno) significativamente importante e que persiste continuadamente. Nesse caso haveria Esgotamento por falência adaptativa devido aos esforços (emocionais) continuados para superar a situação estressora persistente.

Normalmente os estímulos capazes de levar ao Esgotamento por persistência do agente estressor costumam ser de natureza adversa e ameaçadora, quer dizer, estímulos que seriam ameaçadores tanto para a pessoa que a ele reage, como também para quaisquer outras pessoas eventualmente submetidos à mesma situação. Neste caso o problema do Esgotamento é externo à pessoa, dependendo da adversidade e persistência do estímulo, ou seja, trata-se de um problema mais circunstancial que pessoal.

A segunda situação seria o Esgotamento que aparece quando a pessoa não dispõe de estabilidade emocional suficientemente para adaptar-se a estímulos não tão traumáticos ou adversos. Isso quer dizer que a pessoa sucumbiria, emocionalmente, diante de situações não tão ameaçadoras a outras pessoas colocadas na mesma situação.

Não obstante, esses estímulos seria estressores ou particularmente agressivos a essa determinada pessoa, seria uma ameaça subjetivamente representada mais para essa pessoa em particular do que para as demais pessoas. Neste caso o problema do Esgotamento seria mais pessoal que circunstancial.

Digamos então, que o Esgotamento, ou a Ansiedade crônica e patológica, poderia surgir diante de duas situações: decorrendo daquilo que a realidade do mundo traz para pessoa (circunstancial) e, por outro lado, decorrendo daquilo que a pessoa traz ao mundo (pessoal). A primeira representada pelo destino da pessoa e a segunda pelo seu perfil emocional pessoal.

O que se pode sentir no Esgotamento ?

Diante do Esgotamento, o organismo todo pode entrar em sofrimento. É como se esgotasse não apenas sua capacidade de adaptação às diversas circunstâncias de vida mas, sobretudo, como se perdesse a capacidade de se adaptar a si mesmo. Nesses casos de Esgotamento, há acentuado prejuízo do limiar de tolerância aos estímulos externos e acentuada inadequação ambiental.

Existe uma vasta lista de sintomas vagos e inespecíficos desencadeados pelo Esgotamento, sintomas estes, muitas vezes misteriosos e dificilmente esclarecidos por exames médicos.


TIPOS DE ESTRESSORES

O que é um Estressor ?

A ansiedade e o estresse não são monopólios do ser humano. Se colocarmos um gato junto de um cão feroz, depois de algum tempo de estresse o gato ficará esgotado; primeiro ele terá muita ansiedade, entrará em estresse e, pela continuidade do estímulo ameaçador (presença do cão), acabará se esgotando. Nesse exemplo, o cão é o estressor do gato e este é o estressor do cão.

Tendo em vista o fato do gato representar uma ameaça menos ameaçadora para o cão do que o cão para ele, o cão também acabará com esgotamento, porém, provavelmente bem depois do gato. Nesse exemplo, o cão representa para o gato um estímulo agressivo externo, por estar fora do gato e, inato, por fazer parte da natureza biológica de todos os gatos.

Assim sendo, os estressores (estímulos) que desencadeiam a ansiedade nos animais podem ter duas naturezas e uma só origem: quanto à natureza eles podem ser inatos, do tipo gato tem medo de cachorro ou, por outro lado, podem ser condicionados por treinamento e experiência. Quanto à origem, serão sempre externos, partindo do pressuposto que os animais não têm condições para alimentar conflitos intrapsíquicos.

No ser humano, ao contrário dos animais, esses estressores costumam ter duas origens. Eles podem ser externos e, principalmente, internos. Os estímulos estressores externos representam as ameaças do cotidiano de cada um, seja uma ameaça física, tanto sobre a segurança pessoal quanto em relação à saúde, seja uma ameaça moral, econômica, etc., enfim, são ameaças exteriores à pessoa. Por sua vez, as ameaças internas provêem dos conflitos pessoais de cada um, os quais, em última instância, refletem sempre nossa sensibilidade afetiva diante da vida, das perspectivas futuras, da situação atual e mesmo das desavenças passadas.

Como se suspeita, no ser humano os estímulos internos são aqueles que desempenham maior papel no desenvolvimento e manutenção do estresse. Essas ameaças normalmente são interiores, abstratas, continuamente presentes e freqüentemente invencíveis.

Podemos dizer, por exemplo, que a possibilidade de ficar doente seja uma séria ameaça, um estímulo estressor importante. É claro que é. Entretanto, se essa idéia vier sempre e obsessivamente à nossa consciência, podemos experimentar uma grande ansiedade ou, ao contrário, não experimentaremos tanta ansiedade se essa idéia não for freqüente. Esse tipo estímulo estressor é interno e não externo. Seria um estímulo externo caso houvesse, de fato, sinais clínicos de que nossa saúde está abalada. Enquanto houver apenas o medo de passar mal, de poder ficar doente, isso será uma ameaça interna.

Ora, enquanto nos animais os estressores (estímulos agressivos) externos aparecem periodicamente, de acordo com o destino de cada um, no ser humano a presença dos estressores internos pode ser continuada. Havendo uma afetividade problemática, insegurança e/ou pessimismo, a pessoa sentirá as ameaças internas continuamente e, nessas circunstâncias, poderemos ter o esgotamento por persistência do agente estressor.

É por causa desses estressores internos contínuos que a ansiedade humana tem sido constante, exagerada e às vezes patológica. As ameaças externas, pelo contrário, não costumam ser constantes. Vejamos o caso das ameaças concretas sobre nossa segurança pessoal, por exemplo: a ameaça de sermos assaltados, agredidos, mortos, etc. A possibilidade até existe, mas não é contínua. Há situações onde podemos nos sentir seguros, racionalmente falando.

Não obstante, os estressores internos costumam ser mais emocionais que racionais. Isso quer dizer que podemos estar ansiosos devido ao medo de sermos assaltados e agredidos, embora essa possibilidade seja mínima na prática. Além disso, podemos nos deparar com o medo do desemprego, da derrota competitiva, da falta de segurança social e econômica, ou qualquer outra coisa que não se encontra palpável no tempo ou no espaço (como é o assaltante). Nós convivemos, vamos dormir e acordamos, com essas ameaças internas.

Resumindo, vamos ter que os estímulos necessários para determinar a ansiedade são provenientes de duas origens: serão externos, quando se devem à sucessão de acontecimentos de nossa vida aos quais temos que nos adaptar e, serão internos, quando se originam dentro de nós mesmos, de nossos medos, nossos pensamentos negativos, nossas inseguranças.


O que é um Estressor forte e um Estressor fraco ?

Vários autores tentaram estabelecer alguma espécie de graduação de importância para os vários estímulos estressores possíveis no cotidiano. Embora algumas listas possam dar a idéia de grau ou da força variável dos estressores, como por exemplo, separação conjugal seria mais estressante que mudança de emprego e menos estressante do que a morte do filho. Entretanto, essas tabelas perdem o valor quando consideramos que as pessoas são muito diferentes quanto à sensibilidade e a forma de reagir aos desafios impostos pela vida.

Algumas pessoas podem superar perfeitamente perdas importantes, enquanto outros podem desenvolver transtornos emocionais como resposta a acontecimentos de menor importância. As variáveis pessoais desempenham um papel decisivo na maneira de reagir aos eventos de vida.

De um modo geral, pelo menos é bom termos em mente que existem categorias de estressores que nos impõem grandes esforços adaptativos, como por exemplo, a morte de um ente querido, uma grande perda, severos revezes econômicos, constatação de doença séria, etc., e, ao lado desses, existem os pequenos acontecimentos estressantes do cotidiano que acontecem com maior freqüência na vida das pessoas. Finalmente, existe ainda a influência dos conflitos íntimos pessoais.

Mas, além dos acontecimentos considerados estressantes para desencadear e manter o estresse há, também, necessidade de uma certa vulnerabilidade pessoal à ansiedade. Vulnerabilidade pessoal é uma espécie de tendência constitucional ou natureza pessoal a reagir mais ansiosamente aos estímulos estressantes.

Um exemplo médico para entender melhor o estresse seria, a reação alérgica. Se, dentro de um mesmo ambiente impregnado de bolor, existirem 10 pessoas e 3 delas reagirem com espirros, coriza e lacrimejamento como sinais de alérgica ao mofo, não se pode, medicamente falando, atribuir ao fungo ou bolor a causa direta da alergia. Se assim fosse todos os demais também teriam essa reação. Para ocorrer a reação alérgica é indispensável existir, além do o mofo, também a sensibilidade pessoal do alérgico.

Finalizando, a natureza mais forte ou mais fraca de um agente estressor dependerá não apenas do agente em si mas, sobretudo, da sensibilidade da pessoa que está experimentando esse estímulo.

QUANDO E QUEM SE ESGOTA

Devemos ter em mente, que a ansiedade e ou o estresse não são doenças em si, mas podem proporcionar o desenvolvimento de outros males. A ansiedade e o estresse podem ser entendidos como tentativas do indivíduo (veja que não uso o termo mental nem físico) em se adaptar a alguma situação nova, tratam-se de uma mobilização global do organismo que aparece quando este é submetido a uma tensão suficientemente forte.

Como vimos acima, são necessárias causas exteriores e interiores para haver o estresse e, conseqüentemente, o esgotamento. Supondo que o ser humano moderno vive entre sua casa, seu trabalho e a sociedade cultural à qual pertence, as Disposição Pessoal

O termo Disposição Pessoal se refere aos traços de personalidade que fazem da pessoa um ser único, logo, com um jeito todo próprio de se relacionar com a realidade. Existem pessoas naturalmente mais ansiosas que as outras, portanto, mais vulneráveis às situações capazes de produzir a ansiedade. Essa Disposição Pessoal acaba por caracterizar uma maneira da pessoa ser (não de estar).

Podemos observar características diferentes entre as diferentes pessoas desde tenra idade, até em berçários; entre os recém nascidos há aqueles mais ansiosos, que choram mais diante do estímulo da fome, que reagem mais agitadamente que outros ao frio, aos estranhos, etc. Esse traço que exalta a maneira ansiosa de reagir pode ser herdado geneticamente ou adquirido ao longo da vida, normalmente devido a uma sucessão exagerada de eventos que exigem grande esforço adaptativo.

Na vida prática, as pessoas com traço marcante de ansiedade costumam reagir estressadamente diante de estímulos que, normalmente, para outras pessoas não seriam tão estressantes assim.

Condições Emocionais Atuais

Neste caso estamos falando do estado psíquico atual da pessoa, de como está se sentindo emocionalmente neste momento. Algumas pessoas podem ser vítimas de uma sucessão de eventos estressantes e acabar se esgotando, mesmo que não tenha em sua personalidade traços de ansiedade exagerada. Nesses casos houve, realmente, um excesso de agentes estressores que acabou por comprometer a capacidade adaptativa de uma pessoa emocionalmente normal.

Quando surge o esgotamento

Podemos idealizar um esquema bastante sugestivo que mostra as duas situações onde é possível surgir o Esgotamento. A Figura 2, mostra duas situações propícias ao Esgotamento. Na primeira, vê-se contrabalançando com a possibilidade de esgotamento uma pessoa com grande potencial ansioso submetido a uma carga pequena de agentes estressores (AE). Na segunda, vê-se o contrário, ou seja, uma pessoa com potencial ansioso pequeno, mas submetido à grande quantidade de agentes estressores (AE). causas exteriores do estresse (agentes estressores) são, possivelmente, oriundas desses 3 ambientes.

Supondo também que para o desenvolvimento do estresse patológico, é necessária uma certa sensibilidade pessoal, sem a qual os agentes (estressores) ocasionais não seriam capazes de produzir a reação de estresse, teremos que considerar as disposições pessoais dos indivíduos que se estressam.

Finalmente, devemos entender essas disposições pessoais necessárias para a ansiedade patológica e para o estresse, como sendo uma combinação entre os traços pessoais de personalidade, juntamente com a qualidade psíquica atual da pessoa que se estressa.

Lateralidade e dominância cerebral: abordagem histórica

Ao longo da história das neurociências muitos dos conhecimentos acerca dos fundamentos biológicos dos comportamentos humanos têm surgido estreitamente ligados ao conceito de lateralização hemisférica ou dominância cerebral, isto é, às diferenças de funções entre os dois hemisférios do cérebro.
Na verdade, a organização do cérebro em dois hemisférios, direito e esquerdo, parece ter como corolário que cada uma destas suas partes tem a seu cargo os acontecimentos motores e sensoriais que ocorrem na metade oposta (contralateral) do corpo e do espaço. Esta regra geral, se bem que um tanto esquemática e redutora (hoje reconhece-se que a complexidade do cérebro, um super-sistema aberto e que integra em si muitos outros sistemas diferenciados e complexos não se compadece com estes "reducionismos" simplistas) levou à ideia de que cada indivíduo, dotado de um grande potencial cerebral, utiliza o seu cérebro de uma forma particular. Assim, enquanto alguns se apoiariam mais nas capacidades do seu hemisfério esquerdo, parecendo dar prioridade à análise, ao raciocínio e à lógica, outros, pelo contrário, mais apoiados no seu hemisfério direito, dariam prioridade à síntese, à intuição, à visão global e à imaginação .
Esta noção de "dominância cerebral" apresenta um interesse teórico considerável e coloca uma multiplicidade de questões quanto aos seus caracteres, à sua origem, ao seu significado e, embora tenha uma "história já antiga", funcionalmente associada com a "história da afasia" , só recentemente foram enunciados e abordados com clareza os seus fundamentos neurobiológicos, sob o impulso do neurologista americano Norman Geschwind que, aliando os seus conhecimentos enciclopédicos a um espírito de síntese e intuitivo fora do comum, soube abrir um amplo campo de reflexões e de investigação e fazer, com razão, do conceito de dominância cerebral um ramo de parte inteira das Neurociências que em muito ultrapassa o terreno da Biologia.
Broca e a dominância do hemisfério esquerdo para a linguagem
Se bem que o homem pareça ter-se apaixonado desde a mais remota Antiguidade e ao longo de toda a sua história pela questão das diferenças entre lado direito e lado esquerdo, só em 1865 surgiu aquela que parece ter sido a primeira demonstração científica duma desigualdade de função entre os dois hemisférios cerebrais. Com efeito, nesse ano, o cirurgião parisiense Paul Broca apresentou perante a Sociedade de Antropologia uma série de argumentos comprovativos de que "a perda da faculdade da linguagem articulada" estava ligada a uma lesão situada no hemisfério esquerdo, mais precisamente na parte posterior da circunvolução frontal inferior (área do cérebro hoje conhecida por "área de Broca"), sugerindo uma ligação entre uma função cerebral, a linguagem falada, e uma parte específica do cérebro, o seu hemisfério esquerdo. Mais tarde, no ano de 1876, Karl Wernicke descobriu que a lesão de uma parte diferente do cérebro, no seu hemisfério esquerdo, causava também problemas na linguagem mas mais ao nível da compreensão do que da expressão. Essa área, hoje conhecida por "área de Wernicke", situa-se na parte posterior do lobo temporal e parece encontrar-se conectada à área de Broca através de um conjunto de fibras nervosas designadas por "arcuate fasciculus" .
Estava assim "reconhecida" a lateralização hemisférica da linguagem que, todavia, parece ter sido "descoberta" algumas décadas antes (1834-1835) por Mark Dax, um médico de província dotado de um excelente espírito de observação e que, embora não tendo formulado qualquer teoria a propósito nem se tenha enquadrado em nenhum movimento científico relevante, descreveu um conjunto de três dezenas de doentes que apresentavam uma associação entre a afasia e a paralisia dos seus membros direitos . Aliás, de acordo com alguns relatos de Benton , é provável que observações idênticas tenham sido feitas muito antes, havendo referências muito antigas à concordância da paralisia dos membros direitos com os defeitos da linguagem, observação que qualquer profissional de saúde minimamente observador, que trabalhe num serviço em que existem doentes com lesões cerebrais, não deixa de constatar. Broca, porém, tinha um modelo de estudo, a teoria frenológica de Franz Gall, que propunha a existência de órgãos capazes de produzirem funções psicológicas isoladas e, no essencial, a sua contribuição consistiu em dizer que esses órgão não se distribuíam simetricamente pelos dois hemisférios, mas que a função da linguagem existia só no lado esquerdo do cérebro. Na sequência dos trabalhos de Broca, entretanto, surge mais tarde, em 1864, um texto de John Hughlings Jackson, neurologista inglês responsável por importantes descobertas relacionadas com a epilepsia, a relatar a perda da fala na sequência de lesões cerebrais do hemisfério esquerdo ao mesmo tempo que, por volta de 1870, Liepman confirmava que uma lesão nessas mesmas áreas cerebrais produzia ataxia, isto é, a incapacidade de realização de movimentos voluntários, mas apenas quando o paciente era instruído para a realização de tais movimentos.
Estas "descobertas" tiveram obviamente um grande impacto na ciência da época e, a partir daí, muitas foram as sugestões de que, tal como a linguagem era própria do pensamento humano, a assimetria funcional se tornava própria do cérebro humano e, por isso mesmo, o hemisfério esquerdo, detentor de uma capacidade que o direito não tinha, se tornava o "hemisfério dominante". Broca sugeria mesmo que podia existir uma ligação entre esta descoberta e o fato de se ser dextro ou canhoto, sugestão que, apesar de simplista e bastante afastada daquilo que hoje se sabe sobre esta realidade, levou ao aparecimento de preconceitos e atitudes de discriminação dos canhotos que perduram ainda no conhecimento popular .
Lateralização da linguagem vs preferência manual
A "preferência" manual, isto é, o fato de se utilizar uma das mãos mais do que a outra numa maioria de tarefas, associada a uma maior "competência" ou habilidade e força da "mão preferida" relativamente à sua oposta (conceitos subjacentes à ideia de "lateralidade" ou "manualidade", traduções frequentes do termo anglo-saxónico "handedness"), passou então a ser considerada como a manifestação mais simples e mais evidente da "dominância cerebral": o hemisfério esquerdo, que dirige a motricidade fina da mão direita, constitui para a maior parte da população o hemisfério dominante para esta atividade. Esta noção levou mesmo ao aparecimento de questionários e outros instrumentos para "medir a manualidade", como é o caso do Edinburgh Handedness Inventory , entre outros, que se impuseram como um meio simples para avaliar, na prática diária, este aspecto da lateralização funcional e cujos resultados, obtidos em estudos realizados em diversos países, apontam para a probabilidade de os dextros representarem mais de 90% dos indivíduos, qualquer que seja o seu meio cultural (embora apenas 70% da população pareça ser de "dextros puros", ou seja, que efetuam todos os atos exclusivamente com a mão direita), tendo esta constatação permitido o aparecimento de algumas teorias acerca da "origem biológica" desta distribuição .
No entanto, o estudo dos "canhotos", que se aparentava como um terreno potencialmente frutuoso para abordar os mecanismos da dominância cerebral, parece levantar mais problemas do que apontar soluções. Na verdade, como confirmaram os estudos realizados já nos anos 60 com o teste de Wada , ou "Intracarotid Sodium Amobarbital Procedure (ISAP)", técnica inventada em 1949 pelo físico Juhn Wada e que permite anular momentaneamente a função de uma determinado região cerebral quando se injeta directamente na artéria que a irriga uma solução de amital sódico , parece que a organização do cérebro do canhoto, longe de ser a imagem em espelho da do dextro, possui as suas próprias características que parecem resultar, mais do que de regras diferentes das do dextro, da ausência dos mecanismos presentes neste último . Estes estudos, de fato, hoje confirmados pelas mais modernas técnicas de neuroimagem, como a Ressonância Magnética Funcional (fMRI) ou a Tomografia por Emissão de Positrões (PET), mostraram que o hemisfério esquerdo é responsável pelos processos da linguagem na enorme maioria dos dextros mas também o é em mais de metade dos canhotos e ambidextros . Como diz Caldas, pode, por isso, dizer-se que "lateralidade dextra e a lateralização da linguagem do hemisfério esquerdo são fenômenos que se associam com grande frequência mas cuja associação não constitui uma relação funcional", sendo possível que se trate de "duas características independentes, geneticamente determinadas"
Assim, a ligação que Broca pressentia entre lateralização da linguagem e preferência manual, se é verdadeira para os dextros, revelou-se inexata ou pelo menos de natureza diferente para os canhotos. Por estranho que pareça, no entanto, só cerca de um século depois de ter sido descrita esta assimetria funcional dos dois hemisférios cerebrais é que surgiram os primeiros relatos sobre as suas diferenças anatômicas, como veremos a seguir.
Funções do hemisfério direito
Ao longo dos tempos, depois das descobertas de Broca, vários estudos desenvolvidos para a compreensão dos casos de afasia se realizaram e acabaram por trazer mais suportes para a ideia de um "hemisfério dominante". Alguns desses suportes teóricos vieram dos estudos realizados com pacientes que sofreram lesões cerebrais, enquanto outros provinham do estudo de sujeitos com graves crises de epilepsia que eram tratados com a remoção lesional de pequenas parcelas de massa cerebral na região atingida, como foi o caso dos vários estudos desenvolvidos por Penfield e colegas nos anos 50 .
As evidências desses estudos, porém, apontavam para que as lesões no hemisfério esquerdo de sujeitos dextros resultam em afasia para 60% dos casos comparados com 2% se as lesões ocorrerem no hemisfério direito, ao mesmo tempo que nos canhotos as lesões no hemisfério esquerdo produzem afasia em aproximadamente 30% dos pacientes contra 24% dos lesionados no hemisfério direito. Estes dados acabaram por levar à pesquisa das funções específicas do hemisfério direito que, apesar de considerado "inferior" relativamente ao seu hemisfério contralateral, parecia coordenar funções não menos importantes.
Assim, para além da descoberta de que as lesões do hemisfério direito produzem alterações na compreensão semântica da linguagem bem como na sua prosódia (entoação, pausas, etc.) quer semântica quer emocional (cariz emocional da linguagem falada), uma das principais anomalias encontradas em numerosos indivíduos que sofreram uma lesão hemisférica direita é a perda de certas capacidades perceptivas, em particular as que dizem respeito à percepção das relações espaciais entre os objetos (apraxia visuoconstrutiva). A estas dificuldades acrescenta-se, com frequência, uma outra situação bem conhecida e que consiste na incapacidade de um paciente com lesão hemisférica direita manipular o espaço próximo em virtude de uma síndrome de heminegligência esquerda (neglect), fazendo com que apenas seja tida em conta a parte direita do seu campo visual e/ou do seu próprio espaço corporal, dificuldade que se manifesta no fato do indivíduo ter tendência para ignorar os estímulos do seu hemicorpo esquerdo, podendo mesmo chegar à perda total da sua consciência (hemiassomatognosia).
O hemisfério direito do cérebro, além disso, parece também coordenar importantes funções relacionadas com a aprendizagem de certas categorias de estímulos que têm em comum o necessitar de um tratamento rápido e global da informação, como é o caso do reconhecimento de rostos, função frequentemente afetada em pessoas com lesão hemisférica direita (prosopagnosia), sendo também importante o seu papel na memória espacial ou topográfica. Por outro lado, ainda, é hoje reconhecido por todos que a lesão do hemisfério direito cerebral provoca com muita frequência uma perturbação profunda da personalidade e da afetividade, produzindo no indivíduo uma indiferença afetiva muito característica .
O estudo de sujeitos com "cérebro dividido" (split-brain)
O conhecimento da distribuição das funções por cada um dos hemisférios cerebrais desenvolveu-se, fundamentalmente, na sequência de estudos realizados com pacientes calasotomizados, ou seja, pacientes a quem foi feita uma calosomia (seccionamento do corpo caloso) como forma de tratamento cirúrgico de epilepsias graves, tentando impedir a disseminação da actividade epiléptica de um lado do cérebro para o outro. O estudo nesses pacientes parecem também mostrar que cada hemisfério é capaz de funcionar independentemente quando os dois são isolados um do outro
Entre os investigadores que utilizaram este tipo de estudos destaca-se, sem dúvida, Roger Sperry que, em meados da década de 1960, iniciou uma série de estudos em animais com "cérebro dividido" e depois os alargou ao estudo com humanos, trabalho que lhe viria a permitir a obtenção do prêmio Nobel em 1981 .
A história da investigação em pessoas com "cérebro dividido", porém, começou muito antes de Sperry , havendo referências que se reportam já a trabalhos desenvolvidos por Fechner, no século XVIII, um dos pioneiros da psicologia experimental que acreditava que se as duas metades do cérebro fossem divididas longitudinalmente pelo meio poderia produzir-se algo como a duplicação de um ser humano . Por outro lado, tudo indica que a primeira intervenção cirúrgica de seccionamento do corpo caloso para separação cirúrgica dos dois hemisférios cerebrais se realizou em 1940 por intermédio de William VanWagenen. Além destes, por sua vez, também os trabalhos desenvolvidos por Penfield, Roberts e colegas (1959) no tratamento de epilepsias graves parecia apontar para a utilidade deste tipo de patologias no estudo da dominância cerebral. Sperry e colegas, no entanto, desenvolveram procedimentos de avaliação pelos quais se introduz informação num ou noutro hemisfério de sujeitos com "cérebro dividido", podendo as respostas de qualquer um dos hemisférios ser observadas independentemente. No método usado por estes investigadores, a informação é introduzida no cérebro a partir do campo visual direito ou esquerdo (ver gravura em http://www.epub.org.br/cm/n15/mente/lateralidade.html) e, enquanto o sujeito fixa um ponto central, um estímulo (por exemplo uma palavra) é rapidamente mostrado durante apenas 0,1s para eliminar alterações do campo visual provenientes de movimentos oculares. Com estas investigações, Sperry e colegas acabam por concluir que cada hemisfério desligado se comportava como se não estivesse consciente dos acontecimentos cognitivos do hemisfério parceiro. Segundo as suas próprias palavras , "cada metade cerebral parecia ter o seu próprio domínio cognitivo, em grande medida independente, com as suas próprias experiências perceptivas privadas de aprendizagem e memória, estando todas elas aparentemente esquecidas dos acontecimentos correspondentes no outro hemisfério".
O trabalho desenvolvido por Sperry, apesar de algumas generalizações excessivas, foi depois continuado e aprofundado por autores como Michael Gazzaniga (seu colaborador directo), Bogen e Vogel, autores que, de alguma forma, apesar de confirmarem a especificidade de cada hemisfério cerebral na coordenação de funções cognitivas e motoras, procuraram demonstrar que, mesmo após o seccionamento do corpo caloso, os dois hemisférios cerebrais continua a comunicar um com o outro de alguma maneira.
Geschwind e a descrição morfológica das assimetrias cerebrais
Norman Geschwind é também uma referência obrigatória quando se pretende estudar a história da lateralização hemisférica cerebral. Este autor, na verdade, num curto artigo publicado em 1968 com o seu colega Levitsky , reactualizou a questão das assimetrias cerebrais e lançou ao mesmo tempo as bases de toda uma corrente científica respeitante à biologia da dominância cerebral. Num trabalho anatómico que abrangeu 100 cérebros de indivíduos normais, dissecados de maneira a abrir o rego de Sylvius, estes autores estudaram a superfície triangular situada atrás da área auditiva primária, o planum temporale, e mostraram que esta era nitidamente mais desenvolvida do lado esquerdo em 65% dos cérebros. Nos outros casos, por sua vez, esta estrutura apresentava-se simétrica ou ligeiramente assimétrica a favor do lado direito. Sublinhando que esta área cortical se integra na chamada área de Wernicke, que tem um papel preponderante nos aspectos sensoriais da linguagem (mas apenas no hemisfério esquerdo), Geschwind sugeria que talvez esta assimetria seja o suporte morfológico da assimetria funcional da linguagem, conhecida desde os tempos de Dax e Broca (mais de um século antes).
Este estudo, na verdade, constituiu-se como que um ponto de partida para a exploração de outras assimetrias estruturais, partindo-se da hipótese de que se a assimetria do planum temporale pode ser relacionada com a dominância do hemisfério esquerdo para a linguagem também outras possíveis assimetrias se poderão correlacionar com a lateralização de outras funções hemisféricas.
A teoria de Geschwind baseia-se então no postulado de que a dominância cerebral está fundamentalmente ligada à existência de assimetrias anatômicas em geral e de que em particular a dominância do hemisfério esquerdo para a linguagem tem um laço essencial com a assimetria do planum temporale . Admitindo a existência, na maioria dos indivíduos, duma tendência para a dominância do HE para a linguagem e para a lateralidade manual, Geschwind imaginava, no entanto, que em certas circunstâncias, (nomeadamente diversas influências hormonais, como a maior ou menor quantidade de testosterona durante o período de gestação), esta tendência podia ser contrariada, diminuindo o grau de assimetria, admitindo mesmo que esta dominância se poderia estabelecer de forma aleatória numa parte da população.
Uma visão global
Em termos globais, uma análise dos processos cognitivos parece assim indicar que mesmo as funções mais complexas do cérebro são localizadas. No entanto, a questão da função ser uma propriedade localizada ou uma propriedade do conjunto do sistema nervoso parece ser uma questão dialética, dependendo a resposta do interesse do pesquisador e da abordagem experimental particular.
A verdade é que as modernas técnicas de neuroimagem, que nos permitem observar in vivo o funcionamento do cérebro em tempo real, durante a execução de tarefas cognitivas ou comportamentais, levam-nos hoje à visão integrada de um cérebro entendido como um super-sistema de sistemas, organizado numa dupla vertente de especialização e integração. Neste sentido, nenhuma parte do sistema nervoso funciona do mesmo modo isolada como o faz com as outras partes em interação e, ao mesmo tempo, mesmo nas tarefas simples múltiplas áreas do córtex são ativada em simultâneo.
A história da lateralização hemisférica ainda não terminou. No entanto, poderemos talvez concluir, para já, que não há um hemisfério "dominante" e outro inferior ou "dominado". O que há é dois hemisférios complementares, necessitando um do outro na realização de tarefas desde as mais simples atividades reflexas até aos mais elaborados raciocínios ou atos de criação artística.
Tabela 1 - Linha do tempo da história da dominância cerebral ou Lateralização hemisférica.



Ovar, 14 de Setembro de 2003
Celso Oliveira

Estudo Dirigido

FACULDADE LEÃO SAMPAIO
PSICOFISIOLOGIA - PSICOLOGIA
Professora: Sheila Xenofonte



1. Quando nosso cérebro, independente de nossa vontade, interpreta alguma situação como ameaçadora (estressante), todo nosso organismo passa a desenvolver uma série de alterações denominadas, em seu conjunto, de Síndrome Geral da Adaptação ao Estresse. Discorra sobre as fases desse processo.

Leia: – a interação corpo-mente nas doenças- texto da revista mente e cérebro)

2. Comente: A resposta ao estresse promove mudanças fisiológicas e comportamentais em situações de ameaça ou que requeiram melhor desempenho

3. Sobre a relação entre cérebro-hormônios- sistema imunológico, cite todos os hormônios envolvidos e suas atuações.

4. Qual o papel do hipotálamo na resposta ao estresse?

5. Comente: O estresse psicológico pode afetar a suscetibilidade do indivíduo a doenças infecciosas.

Relação entre estressores, estresse e ansiedade

Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul
Print ISSN 0101-8108
Rev. psiquiatr. Rio Gd. Sul vol.25 suppl.1 Porto Alegre Apr. 2003
doi: 10.1590/S0101-81082003000400008

Stressfull life-events, stress and anxiety
Regina MargisI; Patrícia PiconII; Annelise Formel CosnerIII; Ricardo de Oliveira SilveiraIV
IPsiquiatra, mestranda em Bioquímica (UFRGS)
IIPsiquiatra, professora assistente do Departamento de Psiquiatria FAMED-PUCRS
IIIPsiquiatra, psiquiatra do Ambulatório de Transtornos de Ansiedade do Hospital São Lucas
IVPsiquiatra, mestrando em Psiquiatria (UFRGS) e membro do corpo clínico do Prontopsiquiatria – CISAME

RESUMO

Os autores apresentam uma breve revisão de literatura sobre a relação entre ansiedade, eventos estressores e estresse. São descritas as diferentes situações estressoras, a definição de evento de vida estressor e os aspectos cognitivos, comportamentais e fisiológicos da resposta frente ao estresse. A neuroanatomia e os principais neurotransmissores envolvidos na resposta fisiológica de ansiedade ao estresse são descritos. Estudos genéticos que evidenciam a relação entre os eventos de vida estressores como fator de risco para ansiedade são apresentados. A relação causal entre os eventos de vida estressores e o aparecimento de ansiedade é abordada a partir de estudos realizados com adultos e adolescentes.

Descritores: Estresse, ansiedade, eventos de vida estressores.

ABSTRACT

The authors present a brief review of the literature on the relationship between anxiety, stressful life-events and stress. Stressful events are described as well as the definition of stressful life-events and the cognitive, behavioral and physiological responses to stress. Neuroanatomy and neurotransmitters involved on the anxiety response to stress are described. Genetic studies on the relationship of stressful life-events as risk factor to anxiety were reviewed. From several studies with adults and adolescents a cause relationship between stressful life events and anxiety is evaluated.

Keywords: Stress, anxiety, stressful life-events.


1. INTRODUÇÃO

O termo estresse denota o estado gerado pela percepção de estímulos que provocam excitação emocional e, ao perturbarem a homeostasia, disparam um processo de adaptação caracterizado, entre outras alterações, pelo aumento de secreção de adrenalina produzindo diversas manifestações sistêmicas, com distúrbios fisiológico e psicológico. O termo estressor por sua vez define o evento ou estímulo que provoca ou conduz ao estresse.1
Em 1936 o fisiologista canadense Hans Selye introduziu o termo "stress" no campo da saúde para designar a resposta geral e inespecífica do organismo a um estressor ou a uma situação estressante. Posteriormente, o termo passou a ser utilizado tanto para designar esta resposta do organismo como a situação que desencadeia os efeitos desta.1,2
A resposta ao estresse é resultado da interação entre as características da pessoa e as demandas do meio, ou seja, as discrepâncias entre o meio externo e interno e a percepção do indivíduo quanto a sua capacidade de resposta. Esta resposta ao estressor compreende aspectos cognitivos, comportamentais e fisiológicos, visando a propiciar uma melhor percepção da situação e de suas demandas, assim como um processamento mais rápido da informação disponível, possibilitando uma busca de soluções, selecionando condutas adequadas e preparando o organismo para agir de maneira rápida e vigorosa. A sobreposição destes três níveis (fisiológico, cognitivo e comportamental) é eficaz até certo limite, o qual uma vez ultrapassado, poderá desencadear um efeito desorganizador2. Assim, diferentes situações estressoras ocorrem ao longo dos anos, e as respostas a elas variam entre os indivíduos na sua forma de apresentação, podendo ocorrer manifestações psicopatológicas diversas como sintomas inespecíficos de depressão ou ansiedade, ou transtornos psiquiátricos definidos, como por exemplo o Transtorno de Estresse Pós-Traumático3.
O presente trabalho tem por objetivo relatar os achados de literatura reunidos por grupo de estudos do XVI Ciclo de Avanços em Clínica Psiquiátrica , a ser realizado em 13 de abril de 2003, em Porto Alegre. O foco de interesse foi o estudo da relação entre estresse, eventos de vida estressores e sintomas de ansiedade. Não sendo propósito do grupo estudar a relação entre eventos traumáticos e transtornos já descritos e categorizados segundo a Classificação Internacional de Doenças (CID – 10)3, como o transtorno de estresse pós-traumático, reação aguda ao estresse, reação de ajustamento ao estresse e alteração de personalidade após experiência catastrófica. O grupo utilizou o sistema de busca on-line nas bases de dados MEDLINE e LILACS, no período de 1994 a janeiro de 2003. Os termos de busca foram life-events, stress, anxiety. Cabe salientar a relativa escassez de trabalhos localizados na área de interesse.

2. ESTRESSORES

As situações ambientais podem ser provocadoras de estresse e agrupadas como: acontecimentos vitais (life-events), acontecimentos diários menores e situações de tensão crônica. Os chamados life-events, estudados pela primeira vez por Holmes e Rahe em 19672, têm sido um grande foco da epidemiologia psiquiátrica nas últimas décadas. Na literatura, os life-events têm sido nomeados como acontecimentos vitais, eventos de vida, eventos estressores ou eventos de vida negativos. Os autores propõem que a nomenclatura mais apropriada para a discussão do tema seja a de eventos de vida estressores, a qual será utilizada no decorrer deste artigo. Os eventos de vida estressores têm sido diferenciados em dependentes e independentes. Os dependentes apresentam a participação do sujeito, ou seja, dependem da forma como o sujeito se coloca nas relações interpessoais, como se relaciona com o meio, onde seu comportamento provoca situações desfavoráveis para si mesmo. Os eventos de vida estressores independentes são aqueles que estão além do controle do sujeito, independem de sua participação, sendo inevitáveis, como por exemplo, a morte de um familiar ou a saída de um filho de casa como parte do ciclo vital de desenvolvimento.4
Há de se fazer ainda distinção entre evento traumático e evento de vida estressor. O evento traumático é aquele em que, uma vez a ele exposto, o sujeito poderá sofrer conseqüências psíquicas por um tempo longo, podendo chegar a décadas, mesmo após seu afastamento do mesmo. O evento traumático grave inclui aspectos relacionados ao comprometimento da integridade física do próprio indivíduo ou de outrem. O evento de vida estressor, por outro lado, é aquele que, embora possa dar origem a efeitos psicológicos sob a forma de sintomas e desadaptação, uma vez removido, tende a acarretar uma diminuição do quadro psicopatológico por ele provocado.5
Mudanças importantes na vida, como iniciar um novo emprego, casar-se ou separar-se, o nascimento de um filho, sofrer um acidente, podem gerar resposta de estresse nos indivíduos a elas expostos. Avaliar a ocorrência destes eventos pode ser uma forma de tomar conhecimento da freqüência com que determinada pessoa desencadeia uma resposta de estresse.
Além dos eventos de vida estressores, os denominados acontecimentos diários menores, que podem ser vivenciados em diversas situações cotidianas, como perder coisas, esperar em filas, ouvir o som do despertador ou o barulho provocado por vizinhos, também são provocadores de resposta de estresse. Muitas vezes estes acontecimentos diários menores, quando freqüentes, geram resposta de estresse com efeitos psicológicos e biológicos negativos mais importantes do que eventos de vida estressores de menor freqüência. Salienta-se, então, a importância destes eventos menores, porém freqüentes, que para alguns indivíduos são provocadores de grande desconforto psíquico.
O terceiro grupo de situações ambientais provocadoras de estresse corresponde às situações de tensão crônica que geram estresse relativamente intenso e que persistem ao longo do tempo, como por exemplo, um relacionamento conjugal perturbado (com agressões verbais e físicas ao longo de anos), gerando importantes efeitos psicopatológicos.2

3. RESPOSTA AO ESTRESSE

3.1 Nível cognitivo

A resposta ao estresse depende, em grande medida, da forma como o indivíduo filtra e processa a informação e sua avaliação sobre as situações ou estímulos a serem considerados como relevantes, agradáveis, aterrorizantes, etc. Esta avaliação determina o modo de responder diante da situação estressora e a forma como o mesmo será afetado pelo estresse. No nível cognitivo, podemos então distinguir quatro componentes: 1. avaliação inicial automática da situação ou estímulo, também conhecida como reação afetiva, em que o sujeito avalia inicialmente o potencial de ameaça para si. Esta avaliação global afetiva determina um padrão de respostas do tipo defesa ou conferência e orientação. Quando a situação ou estímulo é percebido como ameaçador, então uma resposta de defesa é ativada. Porém, se a avaliação for de não ameaça, a resposta de conferência e orientação é a escolhida, e o sujeito se prepara para recolher mais informações. As respostas de conferência e orientação ou de defesa irão provocar diferentes respostas fisiológicas; 2. avaliação da demanda da situação ou avaliação primária, em que o sujeito avalia a situação estressora, não por seu significado intrínseco, mas de acordo com sua história pessoal e seu aprendizado e experiências prévias. Nesta fase, o relevante é como o sujeito vivencia a situação de estresse; 3. avaliação das capacidades para lidar com a situação estressora ou avaliação secundária, quando o sujeito avalia a situação em relação às suas capacidades e recursos de enfrentamento para manejá-la e; 4. organização da ação ou seleção da resposta, a partir das avaliações anteriormente descritas, em que o sujeito elabora suas respostas às demandas percebidas2.
As respostas podem ser específicas para a situação alvo ou gerais, ou pode ainda não haver resposta disponível para o sujeito que então decidirá entre arriscar uma nova resposta ou suportar passivamente a situação estressora. Os recursos comportamentais e fisiológicos a serem mobilizados dependem, em grande medida, desta escolha.

3.2 Nível comportamental

As respostas comportamentais básicas diante de um estressor são: enfrentamento (ataque), evitação (fuga), passividade (colapso). As habilidades do sujeito para dar respostas adequadas a cada estressor dependem de um aprendizado prévio das condutas pertinentes e de se a emissão de respostas recebeu reforço nas situações similares precedentes. Além disto, a resposta de enfrentamento será modulada por suas conseqüências. A resposta de enfrentamento selecionada define a forma de ativação do sujeito, os recursos e estruturas fisiológicas a serem mobilizadas e os possíveis transtornos psicofisiológicos que possam ocorrer. A resposta ao estressor pode ser preditiva de transtornos específicos como no caso de fuga e evitação, ser preditiva de agorafobia ou fobia social, ou um padrão de enfrentamento da personalidade tipo A ser preditor de transtornos cardiovasculares.2

3.3 Nível fisiológico

Aspectos neuroanatômicos

Do ponto de vista evolutivo, a ansiedade e o medo, assim como o estresse, têm suas raízes nas reações de defesa dos animais, que ocorrem em resposta aos perigos encontrados em seu meio ambiente. Quando um animal se depara com uma ameaça ao seu bem estar, à sua integridade física, ou até mesmo à sua sobrevivência, ele experimenta uma série de respostas comportamentais e neurovegetativas, que caracterizam a reação de medo (ver fluxograma 1).

Considera-se que diferentes estruturas cerebrais estejam envolvidas nas diferentes estratégias de defesa, dependendo do nível de ameaça percebido pelo indivíduo. Experiências com modelos animais evidenciam que, em situações potencialmente perigosas (situações novas ou situações semelhantes àquelas nas quais o indivíduo viveu um perigo real em um outro momento), as estruturas envolvidas seriam o sistema septo-hipocampal e a amígdala. Tais estruturas recebem informações colhidas pelos diferentes sistemas sensoriais, criando assim uma representação do mundo exterior. O sistema septo-hipocampal executaria inicialmente a função de conferidor, comparando a síntese dos dados sensoriais do momento, com as predições que levam em conta as memórias armazenadas em diversos locais do Sistema Nervoso Central (SNC), bem como os planos de ação gerados pelo córtex pré-frontal. Quando há coerência entre as duas representações, o sistema septo-hipocampal continuaria a executar sua tarefa de conferidor. Entretanto, quando é detectada uma discrepância entre o esperado e o acontecido, o sistema septo-hipocampal passaria a funcionar na modalidade controle, gerando inibição do comportamento, aumento do nível de vigilância, dirigindo a atenção do indivíduo para possíveis fontes de perigo (comportamento de avaliação de risco).

Quando os sinais de perigo tornam-se explícitos, mas encontram-se ainda à longa distância, a reação típica é a de imobilidade tensa (congelamento ou inibição comportamental defensiva), cujo substrato neural provavelmente seja a porção ventral da matéria cinzenta periaquedutal (MCP) do mesencéfalo.6,7 Graeff e cols., baseados em experimentos com animais, consideram que a MCP parece ser a principal estrutura responsável pela programação de luta e fuga, que guarda analogia com os ataques de pânico6. Esta, juntamente com o hipotálamo, programa as manifestações comportamentais, hormonais e neurovegetativas das reações de defesa. Além disso, foi também verificado que a estimulação da via serotonérgica, que se origina no núcleo mediano da rafe e inerva preferencialmente o septo-hipocampo, determina inibição comportamental característica da defesa.

Neurotransmissores e estresse

Diferentes substâncias têm sido estudadas visando a compreender a neurofisiologia que envolve a ansiedade e o estresse. Entre elas as aminas biogênicas, como a noradrenalina, a dopamina e a serotonina; aminoácidos, como o ácido gama-aminobutírico (GABA), a glicina e o glutamato; peptídeos, como o fator de liberação de corticotropina (CRF), o hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) e a colecisticinina (CCK) e esteróides, como a corticosterona (fluxograma 2).


No SNC, neurônios que sintetizam noradrenalina estão situados nas regiões bulbar e pontina, sendo que o grupo mais importante situa-se no locus ceruleus. As células do locus ceruleus, quando ativadas por estímulos estressantes, ameaçadores, produzem uma reação comportamental cardiovascular característica de medo. Acredita-se que o locus ceruleus funcione como um "sistema de alarme", ou seja, exerce a função de atenção, monitorando continuamente o ambiente e preparando o organismo para situações de emergência.6,7
De todos os transtornos de ansiedade, o transtorno do pânico e o estresse pós-traumático são os que apresentam evidências mais contundentes de uma anormalidade do sistema noradrenérgico.
A noradrenalina tem sido relacionada também com experiências intrusivas. O locus ceruleus inerva hipocampo, amigdala e neocortex temporal, que são algumas das estruturas neuroanatômicas envolvidas no processo associativo. Na resposta aguda ao estresse, há um aumento importante de noradrenalina na fenda sináptica, resultando num aumento da resposta monosináptica evocada.8
Com relação à dopamina, o estresse aumenta a liberação e o metabolismo deste neurotransmissor no córtex pré-frontal, uma área envolvida na produção de respostas ao estresse9. O envolvimento da dopamina com estados de hipervigilância já está bem estabelecido. Sabe-se que a diminuição da função serotonérgica pode resultar em aumento da função da dopamina, promovendo hipervigilância nas situações de estresse.
Acredita-se atualmente que a serotonina exerça um duplo papel na regulação do comportamento de defesa. Os sinais de perigo estimulariam o sistema de defesa através da amígdala e, ao mesmo tempo, ativariam os neurônios serotonérgicos do núcleo dorsal da rafe. Estes, por vias nervosas diferentes, inervam tanto a amígdala quanto a MCP. A serotonina facilitaria as reações ativas de defesa na amígdala e as inibiria na MCP. As respostas mediadas pela serotonina teriam, portanto, um sentido adaptativo, já que para níveis de perigo potencial ou distal é conveniente que os comportamentos de luta e fuga sejam inibidos, possibilitando que o indivíduo adote estratégias mais adequadas, como exploração cautelosa e inibição comportamental.7 Poder-se-ia dizer, ainda, que a serotonina aumenta a ansiedade atuando na amígdala e contém o pânico agindo na MCP.
O GABA (acido gama-aminobutírico) é o principal neurotransmissor inibitório do Sistema Nervoso Central. No núcleo dorsal da rafe, exerce uma inibição tônica sobre os neurônios serotonérgicos. Na MCP e colículos superiores, exerce um controle inibitório sobre o substrato neural do medo. No teto mesencefálico, controla aspectos motores relacionados ao comportamento de fuga6,7.
Os receptores benzodiazepínicos (BZD) e o GABA estão presentes em toda parte no SNC, afetando diversos sistemas funcionais. Entretanto, os sistemas neuronais envolvidos na regulação da ansiedade, segundo evidências experimentais, são particularmente os núcleos lateral e baso-lateral da amígdala, os quais são ricos em receptores BZD. Estudos mostram também que o sistema GABA – BZD da amígdala regula não apenas a ansiedade, mas a memória emocional, já que à amígdala também é atribuída a ação amnésica dos compostos BZD. 6,7
Resumindo, nas situações em que o perigo está próximo, o indivíduo irá reagir com comportamentos vigorosos de luta ou fuga. Para tal, fazem-se necessárias alterações cardiovasculares, constituindo em elevação da pressão arterial, taquicardia, vasoconstrição na pele e nas vísceras e vasodilatação nos músculos estriados, bem como hiperventilação. O sistema neural responsável por tais manifestações comportamentais e neurovegetativas de defesa ativa seria a MCP dorsal e o hipotálamo medial. O hipotálamo, uma vez estimulado, libera o fator liberador de corticotrofina (CRF), vasopressina e outros neuropeptídeos reguladores. A liberação de CRF promove, entre outras, a secreção do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), o qual leva à liberação do cortisol pelas adrenais (eixo hipotálamo-hipófise-adrenal)10 . Níveis de cortisol cronicamente elevados podem interferir na estrutura e função hipocampal, produzindo alterações de memória e cognição11.
As situações de estresse produzem, portanto, um aumento geral da ativação do organismo, a fim de que o indivíduo possa reagir. Inicialmente considerava-se que esta ativação fisiológica fosse genérica e indiferenciada para qualquer estressor. Entretanto, hoje se pensa que diferentes mecanismos neurais e endócrinos estão envolvidos na resposta ao estresse e que podem ser ativados seletivamente. Labrador e cols. (1994)2 distinguem três eixos de atuação da resposta fisiológica ao estresse:

• O eixo neural, o qual se ativa imediatamente, frente a uma situação de estresse. Implica a ativação principalmente do sistema nervoso autônomo (feixe simpático) e do sistema nervoso periférico. Seus efeitos são: aumento do ritmo cardíaco (SNA), aumento da pressão arterial (SNA), secura na boca (SNA), sudorese intensa (SNA), "nó" na garganta (SNA), formigamento dos membros (SNP), dilatação das pupilas (SNP) e dificuldade para respirar.

• O eixo neuroendócrino é mais lento em sua ativação e necessita de condições de estresse mais duradoras. Seu disparo ativa a medula das suprarrenais, provocando a secreção de catecolaminas (adrenalina e noradrenalina), o que ajuda a aumentar e manter a atividade adrenérgica somática, produzindo efeitos similares aos gerados pela ativação simpática. É o eixo de luta e fuga, pois prepara o organismo para uma intensa atividade muscular, quando a pessoa percebe que pode fazer algo para controlar a situação (seja enfrentar ou fugir). Seus efeitos são: aumento da pressão arterial, do aporte sangüíneo para o cérebro, do ritmo cardíaco, da estimulação dos músculos estriados, de ácidos graxos, triglicerídeos e colesterol no sangue; secreção de opióides endógenos e diminuição do fluxo sangüíneo nos rins, no trato gastrointestinal e na pele. Esta resposta aumenta o risco de hipertensão, de formação de trombos, de angina do peito, em pessoas propensas. Também aumenta o risco de risco de arritmias, elevando a possibilidade de morte súbita.

• O eixo endócrino caracteriza-se por disparo mais lento e por efeitos mais duradouros que os anteriores e necessita de que a situação de estresse mantenha-se por mais tempo. Este eixo é disparado quando a pessoa não dispõe de estratégias de enfrentamento na situação de estresse. Seus principais efeitos são: aumento da glicogênese, aumento da produção de corpos cetônicos, exacerbação de lesão gástrica, aumento da produção de uréia, aumento da liberação de ácidos graxos livres no sistema circulatório, aumento da suscetibilidade a processos ateroscleróticos, aumento da suscetibilidade à necrose miocárdica, supressão de mecanismos imunológicos, diminuição do apetite.


4. GENÉTICA E AMBIENTE: O PAPEL DOS ESTRESSORES

O modelo multicausal de transtornos mentais prevê a influência de fatores genéticos e ambientais. Neste modelo, uma relação longitudinal causal entre os eventos estressores, o surgimento de sintomas e de transtornos mentais apresenta plausibilidade biológica aceitável.

Existem indicativos de associação entre a exposição a eventos de vida estressores negativos e depressão. Brown e cols. (1987)12, em uma revisão de 10 estudos populacionais com mulheres deprimidas, concluíram que em média 83% dos casos apresentavam eventos de vida estressores anteriores ao surgimento do quadro depressivo. Entretanto, nem todos os sujeitos expostos desenvolveram psicopatologia, e uma em cinco mulheres expostas a eventos estressores desenvolveram depressão. Achados como este nos remetem para a questão da variabilidade individual.
Segundo Kendler e cols. (1999)13 numerosos estudos, em especial no campo da depresão, têm demonstrado que a exposição a eventos de vida estressores é substancialmente influenciada por fatores genéticos. Alguns indivíduos não se expõem a eventos de vida estressores ao acaso, mas apresentam uma tendência para selecionar situações com maior probabilidade em se constituir num evento de vida estressor. Os fatores de risco genéticos para eventos de vida estressores se correlacionam positivamente com os fatores de risco genéticos para depressão maior. Então um conjunto de traços geneticamente influenciados aumenta a probabilidade do indivíduo selecionar para si situações de alto risco ambiental que se constituam em eventos de vida estressores, o que aumenta sua vulnerabilidade para o surgimento de depressão maior.
A avaliação negativa do evento estressor pode ser atribuída a uma vulnerabilidade que não está ligada ao evento estressor propriamante dito. A variabilidade individual provavelmente se deva a uma suscetibilidade mediada geneticamente, que influencia a forma do indivíduo avaliar e enfrentar os eventos de vida estressores dependentes e independentes, ou mesmo provocar aqueles dependentes.
Posto que as relações sociais são intrinsecamente diádicas e a forma como o indivíduo se comporta influencia a resposta social que vai obter, o comportamento do indivíduo levará a menor ou maior risco de expor-se a eventos de vida estressores do tipo dependente. A relação causal entre eventos de vida estressores dependentes e depressão tem sido mais estudada, e as evidências são de que entre adolescentes esta relação é significativa.4
Apesar dos eventos de vida estressores dependentes estarem mais fortemente relacionados com depressão maior do que eventos independentes, esta relação não parece ser do tipo causal em sua totalidade. Em uma coorte prospectiva do estudo de base populacional do "Virginia Twin Registry", avaliada por Kendler e cols. (1999)13, a probabilidade de depressão na presença de evento dependente foi 80% maior do que na presença de eventos de vida estressores independentes. A proporção de associação causal entre eventos estressores e depressão maior foi de 65%. Desta forma, um conjunto de traços genéticamente determinados, os quais provavelmente se refletem em um "temperamento dificil ou neurótico", predispõem o indivíduo a se expor a eventos de vida estressores e a episódios de depressão maior. Eventos de vida estressores parecem ter, portanto, uma relação causal com a apresentação de depressão maior. Entretanto, um terço da associação entre os eventos de vida estressores e a apresentação de depressão maior não é causal, uma vez que os indivíduos predispostos a episódios depressivos se colocam em situações de maior risco ambiental, ou seja, diante de eventos de vida estressores.12
Silberg e cols. (1999) 14 realizou estudo com gêmeos no "Virginia Twin Registry" para avaliar o desenvolvimento comportamental de adolescentes e investigou a trajetória de sintomas depressivos entre meninos e meninas, da infância até a adolescência. O estudo buscou estimar a associação entre a suscetibilidade genética à depressão e eventos de vida estressores dependentes e independentes, como por exemplo mau desempenho na escola ou brigas com colegas e amigos, no ano que antecede o surgimento do transtorno depressivo. Entre os meninos, não poder participar do time de esportes, ou de uma banda de música, e perder um amigo por brigas verbais foram depressogênicos. Entre as meninas, o evento estressor mais depressogênico foi o rompimento com um namorado. O impacto dos eventos de vida estressores foi significativo entre as meninas e meninos, mas foi mais importante entre meninas acima de 12 anos, que possuíam maior taxa de herdabilidade para depressão. Os resultados confirmaram a influência genética na depressão entre adolescentes (taxa de concordância de monozigóticos de 0,37 e dizigóticos de 0,09) e a influência ambiental dos eventos de vida estressores (taxa de concordância entre monozigóticos de 0,91 e dizigóticos de 0,75). A taxa de herdabilidade para depressão neste grupo foi estimada em 30% e o restante foi devido a fatores ambientais, entre os quais os eventos estressores. Os eventos estressores negativos tiveram um papel etiológico mais preponderante entre os meninos; nas meninas, o papel da herança genética foi maior, bem como a predisposição para vivenciar eventos estressores de forma negativa. Os resultados sustentam a teoria de que parte da suscetibilidade para depressão e para responder com depressão aos eventos de vida estressores esteja ligada a um mesmo conjunto de genes entre as meninas púberes.
Ao transportarmos esses resultados para o campo dos transtornos de ansiedade, é lícito imaginarmos que a interação de fatores ambientais (os eventos de vida estressores) com predisposição genética para transtornos de ansiedade, modulada pelas capacidades do sujeito em lidar com estes estressores, determinada também geneticamente, resultaria no surgimento de um transtorno de ansiedade.

Para testar a relação causal entre eventos de vida estressores independentes e o aparecimento de transtornos de ansiedade ou depressão, Silberg e cols. (2001) realizaram estudo de coorte prospectiva com 184 pares de gêmeas.4 A hipótese de que transtornos de ansiedade ou depressão estão mais provavelmente associados com eventos de vida estressores negativos independentes em indivíduos com suscetibilidade genética para lidar de forma inapropriada com esses eventos foi avaliada. O estudo envolveu meninas entre 14 e 17 anos, e seus resultados demonstraram não haver efeito genético sobre os eventos de vida estressores independentes estudados, exceto na presença de doença mental parental, quando o efeito dos eventos de vida estressores independentes esteve relacionado com o surgimento de depressão, havendo uma interação estatisticamente significativa entre herança genética para depressão e ambiente (evento de vida estressor independente). Os autores concluem que, para que os eventos de vida estressores desempenhem um papel etiológico sobre o surgimento de sintomas de depressão ou ansiedade, deve haver ou uma predisposição genética para lidar de forma inadequada com esses eventos, ou uma vulnerabilidade aumentada resultante de efeitos ambientais de doença mental parental.
Em síntese, eventos de vida estressores podem ser entendidos como preditores ambientais de ansiedade e depressão. Fatores genéticos desempenham um papel nas diferenças de suscetibilidade individual a estes eventos.

5. ESTRESSE E ANSIEDADE

A hipótese de que a severidade ou presença de eventos de vida estressores são preditivos de severidade ou presença de sintomas de ansiedade ou de transtornos de ansiedade têm sido alvo de estudos recentes com adultos e adolescentes.
A relação etiológica entre a exposição a eventos de vida estressores e o surgimento de sintomas e transtornos de ansiedade em geral, apesar de plausível, tem sido pouco estudada. Pouco se sabe sobre como as mudanças na carga de estresse ao longo do tempo se relacionam com as mudanças nos sintomas prodrômicos de ansiedade e no desenvolvimento de um transtorno de ansiedade.
Sabe-se que os sintomas prodrômicos de ansiedade podem surgir anos antes do surgimento de um transtorno definido e completo, em resposta a eventos estressores, como por exemplo desavenças interpessoais entre pacientes adultos. Então, estressores desta natureza são co-responsáveis pelo surgimento de transtornos mentais a curto, médio e longo prazo, bem como podem precipitar a recorrência de quadros psiquiátricos.15
Reuter e cols. (1999)15 , em uma coorte prospectiva com 303 adolescentes, de ambos os sexos, entre 12 e 13 anos, avaliados anualmente por quatro anos, testou a relação entre desavenças entre pais e filhos como evento de vida estressor, sintomas prodrômicos de ansiedade e depressão e o surgimento de transtornos de ansiedade e depressão aos 19 e 20 anos. Entre os adolescentes, a presença persistente ou crescente de desavenças com os pais foi preditiva de sintomas de ansiedade e depressão. A presença de sintomas crônicos ou crescentes de ansiedade ou depressão foi preditiva de transtornos de ansiedade ou depressão. As taxas de transtornos de ansiedade foram de 6,9% entre as meninas e 5,6% entre os meninos. Este estudo é uma rara demonstração da relação causal entre os eventos de vida estressores e o surgimento de sintomas de ansiedade e depressão, reforçando a associação entre estresse, sob a forma de desavenças interpessoais, e sintomas de ansiedade e depressão. Foi demonstrada uma associação positiva entre a mudança no padrão de estresse relacionada à mudança no padrão dos sintomas, ou seja, quanto maior a exposição ao estressor mais intensa a sintomatologia. Os eventos estressores estiveram indiretamente relacionados ao surgimento dos transtornos de ansiedade e depressivos.15
Os indivíduos na fase adulta com freqüência deparam-se com diferentes situações potencialmente estressoras como a criação dos filhos, o relacionamento enquanto casal, relações interpessoais, necessidade de manutenção do emprego e a própria aposentadoria. Esta, podendo ocorrer na meia-idade, pode ser vivenciada como uma perda (financeira ou das relações sociais)16. Considerando eventos de vida estressores como infidelidade, ameaça de separação e agressões físicas, Cano & O'Leary (2000)17 avaliaram a relação destes eventos com sintomas depressivos e ansiosos. Os indivíduos envolvidos em situações maritais humilhantes referiam significativamente mais sintomas não específicos de depressão e ansiedade que os indivíduos controles.
Deve-se ressaltar ainda a importância de avaliar as situações estressoras e suas manifestações entre os indivíduos da terceira idade. Nesta faixa etária, eventos de vida estressores, como perdas do companheiro, dos amigos, do trabalho e a diminuição das capacidades físicas, podem desencadear sintomatologia psiquiátrica16. Beurs e cols. (2000)18, avaliando idosos com e sem sintomas de ansiedade, não identificaram eventos de vida estressores específicos diretamente relacionados a cronicidade de sintomas ansiosos, mas observaram, no grupo estudado, que o principal evento de vida estressor na terceira idade associado com ansiedade foi a morte do parceiro. Outro estudo realizado pelos mesmos autores (2001)19 demonstrou existir similaridade para vulnerabilidade para depressão e ansiedade, mas os eventos de vida estressores diferiam. O início da depressão estava mais relacionado à morte do companheiro ou outro familiar e o dos sintomas ansiosos com o fato do parceiro desenvolver uma doença grave.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Frente a uma situação estressora, o tipo de resposta de cada indivíduo depende, não somente da magnitude e freqüência do evento de vida estressor, como também da conjunção de fatores ambientais e genéticos. Mesmo as capacidades individuais de interpretar, avaliar e elaborar estratégias de enfrentamento parecem ser geneticamente influenciadas.
A resposta de enfrentamento ao evento estressor, selecionada a partir dos componentes cognitivo, comportamental e fisiológico, caso consiga eliminar ou solucionar a situação estressora provocará uma diminuição da cascata fisiológica ativada. Se a resposta ao estresse gerar ativação fisiológica freqüente e duradoura ou intensa, pode precipitar um esgotamento dos recursos do sujeito com o aparecimento de transtornos psicofisiológicos diversos, podendo predispor ao aparecimento de transtornos de ansiedade entre outros transtornos mentais. O desenvolvimento de um transtorno está diretamente relacionado à freqüência e duração de respostas de ativação provocadas por situações que o sujeito avalia como estressoras para si.
Diversos estudos avaliaram a relação entre a ocorrência de eventos de vida estressores e o surgimento de sintomas depressivos. No entanto, poucos dados são encontrados na literatura em relação a sintomas ansiosos frente a estes eventos. Os autores sugerem que mais estudos de enfoque etiológico sejam realizados, avaliando a relação causal entre a exposição a diferentes eventos de vida estressores e o surgimento de sintomas de ansiedade, bem como de transtornos ansiosos. O reconhecimento desta relação causal terá implicações práticas tão relevantes como a prevenção de transtornos ansiosos e o estabelecimento de estratégias de tratamento.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Conheça a Psicologia.

O QUE É PSICOLOGIA ?

A Psicologia é uma ciência que tenta buscar recursos, procura compreender o homem, seu comportamento, para facilita a convivência consigo próprio e com o outro.

Pretendem fornecer-lhe subsídios para que ele saiba lidar consigo mesmo e com as experiências da vida. É, pois a Ciência do Comportamento, compreendida esta em seu sentido mais amplo. Vale ressaltar que entendo comportamento não apenas como reações externas, mas também como atividades da consciência e mesmo do inconsciente, num plano indiretamente observável.

Não interessam ao nosso estudo as múltiplas discussões e toda a polêmica existente com torno da palavra comportamento ou mesmo do objeto e definição da Psicologia o importante é que você entenda do que ela trata.

Seu objeto tem variado ao longo do tempo e sua pré-história confunde-se com a própria história da Filosofia. No sentido etimológico, seria ciência da alma ou o estudo da alma.

Foi a partir daí que os gregos começam suas especulações. Achavam que todo ser humano possui uma contra parte imaterial do corpo, de onde provinham os processos psíquicos, dos quais o celebro seria apenas mediador. Durante séculos, foi estudado como da alma que a Psicologia existiu.

Rompimento brusconeste conceito se deu com o filosofo francês René Descartes ( 1596- 1650), cuja teoria do dualismo psicolfisico-distinção entre o corpo e mente-impregnou as idéias da época e influenciou toda a Psicologia posterior.

Descartes considerava, que o comportamento animal era mecanicista, isto é , obedecia a ações puramente reflexas. Dai oconceito de animas sem mente.

A realidade consistia, para ele, em duas áreas distintas: o domínio físico do material e o reino imaterial da mente.

O material tem massa, localização no espaço e movimento. Neste reino estão os organismos subumanos, que sofrem processos fisiológicos como alimentação, digestão, circulação sanguínea, funcionamento nervoso, movimentos musculares e crescimento.

Já a mente não tem as características que é a suas atividades são racionar, conhecimento e querer.

Descarte não afastava a possibilidade de que alguma atividade fosse decorrente da interação da mente com o seu correspondente físico. Incluía entre elas a sensação, a imaginação e o instinto (impulsos para a ação).

Desta forma, durante algum tempo, mais precisamente por duzentos e cinqüenta anos, a Psicologia continua sendo o estudo da mente ou da consciência.

Nos séculos XVII e XIX, a mente era objeto de grande atenção por parte dos filósofos.

Duas grandes correntes dominavam, então, o pensamento ocidental: o empirismo inglês e o nacionalismo alemão.

O empirismo acreditava que todo conhecimento se buscava nas sensações: os órgãos dos sentidos receberiam a estimulação do mundo exterior e os nervos a conduziriam ao celebro; resultado seria a percepção dos objetos, base de todo o conhecimento humano.

A filosofia empirista enfatizou, pós, os papeis da percepção sensorial e da aprendizagem no desenvolvimento da mente. John Locke, empirista, inglês, afirmava que a criança nascia com a mente como uma tabula rasa, página em branco onde a experiência e a percepção sensorial iriam inscrever todo o conteúdo.

As primeiras escolas da psicológica do século XX vão se apresentar bastante imbuídas dos princípios destas duas correntes.

No início do século XIX, era seguinte: enquanto os filósofos prendiam ser possível uma ciência do psiquismo. - Os cientistas, levantam-se do experimentam a Física e a Biologia, ciências estas que iriam deter descobertas interessariam à psicologia.

O nascimento da psicologia como disciplina autônoma só vai ocorre, verdadeiramente, a partir de 1879 em Leipzig, com a criação por Wundt do primeiro laboratório dedicado aos estudos psíquicos. No inicio do século XX, com o aparecimento das escolas psicológicas. Estruturalismo, Funcionalismo, Behaviolismo, Gestaltismo e Psicanalise ocorre um rompimento com o dualismo implicado na Psicologia, então definida como a ciência do psiquismo ou dos fatos da consciência.

A psicologia não estuda apenas o comportamento humano. Estuda ainda o com comportamento do animal, principalmente de ratos e chimpanzés, este estudo oferece subsídios interessantes na compreensão das bases do comportamento humano.[]A psicologia como ciência que não tem condições de usar sempre os métodos tradicionais da chamadas ciências exatas. A psicologia é o estudo do comportamento. E como homem e seu bem-estar são nossos interesses principais, e do comportamento que tratamos aqui.

Com o estudo, a psicologia deve procurar alcançar três objetivos-a discrição, a predição e o controle do comportamento.

Deve-se, pois ser capaz de descrever o comportamento de forma precisa e explica-lo adequadamente, antes de se poder pensar em predize-lo ou muda-lo, com razoável margem de êxito.

PSICOLOGIA E SEU CAMPO DE AÇÃO

A psicologia abrange vários campos de atuação. Como clinica, Psicologia esportiva, instrutivas, escolas, hospitalar e psicologia de excepcional.

O campo usado na pesquisa foi a clinica.

Apsicologia nos dias de hoje.

A psicologia é uma ciência empírica, e sofisticada, que cresce rapidamente, e quer pode ser aplicada, pelo menos tentativamente e que pode ser aplicada para ajudar na solução de muito dos problemas práticos da sociedade.

Não é um Corpo de verdades estabelecias, de sabedoria clinica, ou de especulações filosóficas, porém conjunto complexo, vigoroso e potente de métodos sofisticadospara a descoberta de relações fundamentais que podem ser de grande significado para cada homem, e um conjunto de generalizações cientificas úteis-cada generalização porem ostenta uma etiqueta probalitistica, nada é absoluto.

A psicologia é uma abordagem um caminho para chegar aos problemas e pensar a respeito deles.

A psicologia esta fazendo tremendos progressos: quem quer que esteja envolvido nesse campo pode orgulhar-se do poder da humildade, da amplitude e do êxito da psicologia de hoje.

CONCLUSÃO

Concluo que o mais importante é a dedicação profissional, a ética é abraçar a profissão é fazer com o amor e gostar do que fazendo.

Pois e a vida do ser humano que seta em jogo.

Pois uma falha pode acarretar problemas graves. A profissão tem que ter conscienciosa em seus atos, e visar o bem e não a lucrativa e exagerada. Tudo que se faz por amor tem as suas recompensas.
ERYNAT FÁTIMA FERNANDES
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULITA