quarta-feira, 22 de abril de 2009

Anorexia Nervosa? Bulimia? Vejam aqui: Distúrbios do Comportamento.






Distúrbios do Comportamento Alimentar: Anorexia Nervosa e Bulimia
Problema grave do comportamento alimentar, a anorexia mental cada vez mais frequente pode ser mortal. A disponibilidade e ouvir são indispensáveis para instalar um clima de confiança e ajudar o doente a resolver os seus conflitos de outra forma que não seja esta doença.

Muito tempo entendida como um capricho, a anorexia mental adquiriu o direito de ser citada nas patologias do século XIX graças a Laségue e Gull. Os estudos sobre o destino a longo prazo destes doentes, que após alguns meses, em muitos se resumia a uma recuperação do peso fez com que a gravidade desta doença não fosse, nesta época tão evidente. A investigação epidemiológica demonstra que em cerca de dez anos a anorexia mental aumentou, passando de 1-2% para 5% dos adolescentes atualmente. Trata-se de garotas na maior parte dos casos – 95%, com maior incidência entre os 15 e os 25 anos.

O diagnóstico de anorexia é muito importante e repousa sobre alguns critérios essenciais:

-Perda de peso acentuada, superior a 15% do peso inicial,
-Aparecimento da patologia antes dos 25 anos de idade, -Uma distorção implacável do comportamento alimentar,
-A ausência de qualquer outra patologia orgânica ou psiquiátrica,
-Um medo terrível de ganhar peso e de se tornar obeso.

Ainda segundo alguns investigadores é ainda importante juntar a estes critérios anteriores, a existência de pelo menos dois dos seguintes sinais:

- Amenorreia,
- Bradicardia (menos de 60 batimentos por minuto),
- Hipotermia,
- Hiperatividade física,
- Vómitos,
- Episódios bulímicos (em cerca de 1/3 dos casos).

Infelizmente o diagnóstico continua, em muitos casos a ser estabelecido em presença de perdas de peso consideráveis, os primeiros sintomas passam despercebidos ou até banalizados pelos doentes, mas também pela família e pelos que o rodeiam. Uma abordagem e diagnostico precoces destas situações podem evitar em muitos casos as perdas vertiginosas de peso, por vezes mortais, assim como outras complicações da anorexia mental.

Complicações da anorexia mental:

- Desinserção social: 10 a 25%
- Dependência financeira: 30 a 40%
- Problemas sentimentais: 10 a 25%
- Problemas familiares: 40 a 60%
- Depressão, obsessão, compulsão: 15 a 45%
- Tentativas de suicídio: 4%
- Persistência e cronicidade da anorexia mental (mais de 5 anos): 20% dos casos e destes:
- Episódios de anorexia-bulimia: 20%
- Bulimia com peso normal (com vómitos): 20%
- Forma restritiva pura: 60%
- Morte: 8% após 10 a 15 anos de evolução.

A severidade da doença pode ser apreciada através do déficit ponderal. Existem três critérios que devem ser tidos em consideração:

- A perda total de peso, quer dizer a diferença entre o peso máximo, geralmente existente antes do inicio da doença e o peso medido no momento da primeira consulta;
- A velocidade de emagrecimento, quer dizer a perda total de peso relativamente à duração da evolução da doença;
- A severidade do déficit ponderal, apreciado pelo Índice de Massa Corporal (IMC=peso/estatura^2) compreendidos entre 18,5 e 23 para a mulher jovem.

A anorexia mental pode ser considerada como moderada se o IMC ronda os 17,5, severa se for inferior a 15 e critica se a anorexia se acompanha de um IMC à volta de 12,5. As complicações da anorexia mental podem ser ligadas ao desequilíbrio energético prolongado e ao estado de caquexia que se segue, mas também a episódios de vômitos repetidos, observados em 1/3 dos casos. O quase desaparecimento do tecido adiposo, uma atrofia muscular considerável,
uma pele seca acompanhada de problemas de micro-circulação e uma hipotensão arterial são alguns dos fatores que contribuem para a gravidade da doença. Os edemas aparecem em casos extremos acompanhados de hipoalbuminémia severa. Sob o ponto de vista biológico, sobretudo se existem vômitos, é importante pesquisar anemia ferropriva e hipokaliemia.

Existem alguns objetivos incontornáveis e intimamente ligados que se devem ter em conta quando da abordagem e tratamento longo e difícil destes doentes:

-Obter um peso mínimo aceitável: IMC de 18,5; -Obter aportes energéticos compatíveis com a necessidade de manutenção de peso;
-Obter um comportamento alimentar normal “sem medo e sem culpa”;
-Abrir portas mentais: direito à palavra, luta contra a angustia e a desvalorização de si, mas também contra o narcisismo e o perfeccionismo.

A fim de obter um peso mínimo normal seria importante obter do doente a concordância no preenchimento de um diário de registro alimentar para que o técnico de saúde possa avaliar o mais rigorosamente possível, qualitativa e quantitativamente a ingestão alimentar quotidiana.

Com bom senso e precaução para não obter resultados contraproducentes, deve recomendar-se a reintrodução progressiva de gorduras e de hidratos de carbono complexos, os dois nutrientes mais frequentemente excluídos na anorexia mental. Estes dois objetivos estão profundamente correlacionados na medida em que seria difícil obter um peso satisfatório sem obter um aporte energético e qualitativo satisfatório.

Poderá reintroduzir-se o azeite para temperar e cozinhar e também a manteiga em cru já que praticamente tinham desaparecido da refeição. Será de exigir a introdução de farináceos e feculentos (fornecedores de hidratos de carbono), em pequena quantidade no inicio mas atingindo e>m poucas semanas a meta de 200 a 250 g por refeição principal. O aporte proteico normalmente encontra-se um pouco melhor conservado nas anoréxicas, no entanto pode existir uma autêntica fobia por exemplo das carnes vermelhas, mesmo antes da existência da BSE. Aconselhar modos de preparação mais atrativos e criativos onde se pode misturar e disfarçar um pouco a presença da carne pode ajudar estas adolescentes a ingerir carnes mais vezes por semana. Durante muitas situações será possível no decurso do tratamento abordar a questão do comportamento alimentar, explicando que a alimentação é uma atividade vital mas também um prazer individual e partilhado.

Devem promover-se refeições com os amigos e com familiares sobretudos os menos ansiosos com estas situações com os quais a doente poderá encontrar maior serenidade à volta de refeições simples e partilhadas. Pode existir risco associado com a passagem a comportamentos bulimicos e de tentativas de suicídio. Segundo Jeammet a anorexia mental aparece frequentemente como uma resposta aos conflitos, muitas vezes o mais simples e banais, ligados a esse período especifico de evolução da personalidade que é a adolescência. Posteriormente esta conduta perde progressivamente a sua ligação com os conflitos que estiveram na sua gênese e dá lugar a uma forma quase automática de resposta a todo o tipo de tensões.

A anorexia mental é um problema grave do comportamento alimentar que se caracteriza pelo desejo de emagrecer, o medo de comer e de se tornar obeso. A desnutrição que se instala pode tornar-se extremamente severa e conduzir à morte. A abordagem deste tipo de doentes implica muita paciência, mas também de firmeza para que não se entre facilmente nos jogos e estratégias perversas muitas vezes comuns a estas doentes. Pode ser possível resolver este problema sem hospitalização mas os clínicos devem conhecer bem os seus limites e planificar se necessário uma hospitalização em que seja possível restabelecer um equilíbrio nutricional mínimo. Nestes casos de força maior, a re-alimentação não deve nunca fazer esquecer a necessidade de resolver as questões psicológicas subjacentes a esta doença.

Os distúrbios do comportamento alimentar são desvios da ingestão alimentar que conduzem a doença ou incapacidade. Desvios “borderline” ligeiros são bastante comuns e ocorrem com grande variação em muitas idades. Podem ser classificados em função do seu resultado final visível, por exemplo extrema magreza ou obesidade ou com base em variações dos padrões de ingestão alimentar (jejum, restrição alimentar, ingestão descontrolada. Neste capitulo tratar-se-ão temas de distúrbios em que a ingestão alimentar se encontra extremamente perturbada como a anorexia nervosa e a bulimia.

A anorexia nervosa caracteriza-se por uma perda importante de peso auto-imposta, disfunção endócrina, e uma atitude psicopatológica distorcida face à alimentação, ao seu peso e à sua imagem corporal. A doença ocorre tipicamente pouco depois da puberdade ou mais tarde na adolescência. Raramente acontece nos homens.

A bulimia é uma desordem severa caracterizada por episódios de um consumo desenfreado de comida e vômito provocado associado com perda de controlo sobre a ingestão de alimentos, e uma preocupação enorme com a imagem corporal e o peso. Esta desordem acontece essencialmente em jovens do sexo feminino. Formas atenuadas deste tipo de comportamento podem acontecer em mulheres de peso normal.



Dr. João Breda
Nutricionista
MNI - Médicos Na Internet

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