sexta-feira, 24 de abril de 2009

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quarta-feira, 22 de abril de 2009

Reflexão





"A arte de escutar é como uma luz que dissipa a escuridão da ignorância." Dalai Lama

Uma bela frase de Dalai Lama, para que possamos refletir a arte de saber ouvir aos que buscam uma escuta por excelencia no intuito de se descobrir e se modificar, tornado o viver mais feliz.

Anorexia Nervosa? Bulimia? Vejam aqui: Distúrbios do Comportamento.






Distúrbios do Comportamento Alimentar: Anorexia Nervosa e Bulimia
Problema grave do comportamento alimentar, a anorexia mental cada vez mais frequente pode ser mortal. A disponibilidade e ouvir são indispensáveis para instalar um clima de confiança e ajudar o doente a resolver os seus conflitos de outra forma que não seja esta doença.

Muito tempo entendida como um capricho, a anorexia mental adquiriu o direito de ser citada nas patologias do século XIX graças a Laségue e Gull. Os estudos sobre o destino a longo prazo destes doentes, que após alguns meses, em muitos se resumia a uma recuperação do peso fez com que a gravidade desta doença não fosse, nesta época tão evidente. A investigação epidemiológica demonstra que em cerca de dez anos a anorexia mental aumentou, passando de 1-2% para 5% dos adolescentes atualmente. Trata-se de garotas na maior parte dos casos – 95%, com maior incidência entre os 15 e os 25 anos.

O diagnóstico de anorexia é muito importante e repousa sobre alguns critérios essenciais:

-Perda de peso acentuada, superior a 15% do peso inicial,
-Aparecimento da patologia antes dos 25 anos de idade, -Uma distorção implacável do comportamento alimentar,
-A ausência de qualquer outra patologia orgânica ou psiquiátrica,
-Um medo terrível de ganhar peso e de se tornar obeso.

Ainda segundo alguns investigadores é ainda importante juntar a estes critérios anteriores, a existência de pelo menos dois dos seguintes sinais:

- Amenorreia,
- Bradicardia (menos de 60 batimentos por minuto),
- Hipotermia,
- Hiperatividade física,
- Vómitos,
- Episódios bulímicos (em cerca de 1/3 dos casos).

Infelizmente o diagnóstico continua, em muitos casos a ser estabelecido em presença de perdas de peso consideráveis, os primeiros sintomas passam despercebidos ou até banalizados pelos doentes, mas também pela família e pelos que o rodeiam. Uma abordagem e diagnostico precoces destas situações podem evitar em muitos casos as perdas vertiginosas de peso, por vezes mortais, assim como outras complicações da anorexia mental.

Complicações da anorexia mental:

- Desinserção social: 10 a 25%
- Dependência financeira: 30 a 40%
- Problemas sentimentais: 10 a 25%
- Problemas familiares: 40 a 60%
- Depressão, obsessão, compulsão: 15 a 45%
- Tentativas de suicídio: 4%
- Persistência e cronicidade da anorexia mental (mais de 5 anos): 20% dos casos e destes:
- Episódios de anorexia-bulimia: 20%
- Bulimia com peso normal (com vómitos): 20%
- Forma restritiva pura: 60%
- Morte: 8% após 10 a 15 anos de evolução.

A severidade da doença pode ser apreciada através do déficit ponderal. Existem três critérios que devem ser tidos em consideração:

- A perda total de peso, quer dizer a diferença entre o peso máximo, geralmente existente antes do inicio da doença e o peso medido no momento da primeira consulta;
- A velocidade de emagrecimento, quer dizer a perda total de peso relativamente à duração da evolução da doença;
- A severidade do déficit ponderal, apreciado pelo Índice de Massa Corporal (IMC=peso/estatura^2) compreendidos entre 18,5 e 23 para a mulher jovem.

A anorexia mental pode ser considerada como moderada se o IMC ronda os 17,5, severa se for inferior a 15 e critica se a anorexia se acompanha de um IMC à volta de 12,5. As complicações da anorexia mental podem ser ligadas ao desequilíbrio energético prolongado e ao estado de caquexia que se segue, mas também a episódios de vômitos repetidos, observados em 1/3 dos casos. O quase desaparecimento do tecido adiposo, uma atrofia muscular considerável,
uma pele seca acompanhada de problemas de micro-circulação e uma hipotensão arterial são alguns dos fatores que contribuem para a gravidade da doença. Os edemas aparecem em casos extremos acompanhados de hipoalbuminémia severa. Sob o ponto de vista biológico, sobretudo se existem vômitos, é importante pesquisar anemia ferropriva e hipokaliemia.

Existem alguns objetivos incontornáveis e intimamente ligados que se devem ter em conta quando da abordagem e tratamento longo e difícil destes doentes:

-Obter um peso mínimo aceitável: IMC de 18,5; -Obter aportes energéticos compatíveis com a necessidade de manutenção de peso;
-Obter um comportamento alimentar normal “sem medo e sem culpa”;
-Abrir portas mentais: direito à palavra, luta contra a angustia e a desvalorização de si, mas também contra o narcisismo e o perfeccionismo.

A fim de obter um peso mínimo normal seria importante obter do doente a concordância no preenchimento de um diário de registro alimentar para que o técnico de saúde possa avaliar o mais rigorosamente possível, qualitativa e quantitativamente a ingestão alimentar quotidiana.

Com bom senso e precaução para não obter resultados contraproducentes, deve recomendar-se a reintrodução progressiva de gorduras e de hidratos de carbono complexos, os dois nutrientes mais frequentemente excluídos na anorexia mental. Estes dois objetivos estão profundamente correlacionados na medida em que seria difícil obter um peso satisfatório sem obter um aporte energético e qualitativo satisfatório.

Poderá reintroduzir-se o azeite para temperar e cozinhar e também a manteiga em cru já que praticamente tinham desaparecido da refeição. Será de exigir a introdução de farináceos e feculentos (fornecedores de hidratos de carbono), em pequena quantidade no inicio mas atingindo e>m poucas semanas a meta de 200 a 250 g por refeição principal. O aporte proteico normalmente encontra-se um pouco melhor conservado nas anoréxicas, no entanto pode existir uma autêntica fobia por exemplo das carnes vermelhas, mesmo antes da existência da BSE. Aconselhar modos de preparação mais atrativos e criativos onde se pode misturar e disfarçar um pouco a presença da carne pode ajudar estas adolescentes a ingerir carnes mais vezes por semana. Durante muitas situações será possível no decurso do tratamento abordar a questão do comportamento alimentar, explicando que a alimentação é uma atividade vital mas também um prazer individual e partilhado.

Devem promover-se refeições com os amigos e com familiares sobretudos os menos ansiosos com estas situações com os quais a doente poderá encontrar maior serenidade à volta de refeições simples e partilhadas. Pode existir risco associado com a passagem a comportamentos bulimicos e de tentativas de suicídio. Segundo Jeammet a anorexia mental aparece frequentemente como uma resposta aos conflitos, muitas vezes o mais simples e banais, ligados a esse período especifico de evolução da personalidade que é a adolescência. Posteriormente esta conduta perde progressivamente a sua ligação com os conflitos que estiveram na sua gênese e dá lugar a uma forma quase automática de resposta a todo o tipo de tensões.

A anorexia mental é um problema grave do comportamento alimentar que se caracteriza pelo desejo de emagrecer, o medo de comer e de se tornar obeso. A desnutrição que se instala pode tornar-se extremamente severa e conduzir à morte. A abordagem deste tipo de doentes implica muita paciência, mas também de firmeza para que não se entre facilmente nos jogos e estratégias perversas muitas vezes comuns a estas doentes. Pode ser possível resolver este problema sem hospitalização mas os clínicos devem conhecer bem os seus limites e planificar se necessário uma hospitalização em que seja possível restabelecer um equilíbrio nutricional mínimo. Nestes casos de força maior, a re-alimentação não deve nunca fazer esquecer a necessidade de resolver as questões psicológicas subjacentes a esta doença.

Os distúrbios do comportamento alimentar são desvios da ingestão alimentar que conduzem a doença ou incapacidade. Desvios “borderline” ligeiros são bastante comuns e ocorrem com grande variação em muitas idades. Podem ser classificados em função do seu resultado final visível, por exemplo extrema magreza ou obesidade ou com base em variações dos padrões de ingestão alimentar (jejum, restrição alimentar, ingestão descontrolada. Neste capitulo tratar-se-ão temas de distúrbios em que a ingestão alimentar se encontra extremamente perturbada como a anorexia nervosa e a bulimia.

A anorexia nervosa caracteriza-se por uma perda importante de peso auto-imposta, disfunção endócrina, e uma atitude psicopatológica distorcida face à alimentação, ao seu peso e à sua imagem corporal. A doença ocorre tipicamente pouco depois da puberdade ou mais tarde na adolescência. Raramente acontece nos homens.

A bulimia é uma desordem severa caracterizada por episódios de um consumo desenfreado de comida e vômito provocado associado com perda de controlo sobre a ingestão de alimentos, e uma preocupação enorme com a imagem corporal e o peso. Esta desordem acontece essencialmente em jovens do sexo feminino. Formas atenuadas deste tipo de comportamento podem acontecer em mulheres de peso normal.



Dr. João Breda
Nutricionista
MNI - Médicos Na Internet

Artigo: Análise do comportamento.







Psicologia: Reflexão e Crítica
Print ISSN 0102-7972
Psicol. Reflex. Crit. vol.13 n.3 Porto Alegre 2000
doi: 10.1590/S0102-79722000000300011

Análise do Comportamento e Fisiologia

Fronteiras entre Análise do Comportamento e Fisiologia: Skinner e a Temática dos Eventos Privados

Emmanuel Zagury Tourinho 1 2
Eveny da Rocha Teixeira
Josiane Miranda Maciel
Universidade Federal do Pará


Resumo
O presente estudo examinou referências de B. F. Skinner à fisiologia em textos sobre eventos privados, com o objetivo de identificar elementos para uma demarcação mais precisa das relações entre análise do comportamento e fisiologia. As contribuições de Skinner naquela direção foram categorizadas em seis temas: a) variáveis biológicas como constitutivas, mas não definidoras do fenômeno comportamental privado; b) autonomia do recorte analítico-comportamental diante dos fatos biológicos/fisiológicos; c) limites de controle do comportamento por eventos internos/fisiológicos; d) comportamento privado como comportamento do organismo como um todo; e) distinção entre contato privilegiado e conhecimento privilegiado; e f) preservação do recorte analítico-comportamental em situação de análise aplicada do comportamento. As proposições correspondentes às categorias descritas são apontadas como originais na definição do campo de uma ciência do comportamento e capazes de orientar coerentemente a demarcação das fronteiras entre análise do comportamento e fisiologia enquanto disciplinas independentes e complementares.
Palavras-chave: Behaviorismo radical; análise do comportamento; fisiologia; eventos privados.

Boundaries Between Behavior Analysis and Physiology: Skinner and the Issue of Private Events

Abstract
This study examines B. F. Skinner´s references to physiology in publications dealing with private events, in order to identify elements for a clearer definition of the relations between behavior analysis and physiology. Skinner´s contributions were analyzed with reference to six thematic categories: a) biological variables as constitutive, albeit non-defining properties of private behavioral phenomena; b) the autonomous nature of the behavioral-analytical approach in the face of biological/physiological facts; c) limits of behavior control by internal/physiological events; d) private behavior as behavior of the organism as a whole; e) a distinction between privileged access and privileged knowledge; f) retention of the behavioral-analytical approach in applied behavior analysis. Skinner´s propositions concerning the described categories are discussed as original in defining the field of a science of behavior and capable of providing a coherent guide for establishing clear-cut limits between behavior analysis and physiology as independent and complementary disciplines.
Keywords: Radical behaviorism; behavior analysis; physiology; private events.


A relação entre a análise do comportamento e sistemas diversos para a explicação do comportamento humano pode ser abordada sob duas perspectivas, a princípio distintas. A análise do comportamento pode ser confrontada com modelos tipicamente psicológicos, mas claramente concorrentes, por exemplo, o cognitivismo (cf. Flora & Kestner, 1995; Moore, 1975; 1981; Overskeid, 1994; Skinner, 1985, 1989c; Stemmer, 1995) e pode ser confrontada com disciplinas afins, mas independentes, como exemplo, a fisiologia (cf. Baer, 1996; Bullock, 1996; Donahoe, 1996; Donahoe & Palmer, 1994; Moore, 1997; Poling & Byrne, 1996; Reese, 1996a, 1996b). Pode-se supor que, no primeiro caso, a questão é de opção entre perspectivas irreconciliáveis de análise, enquanto, no segundo, o problema é meramente de demarcação de fronteiras. Esta formulação pode ser insuficiente diante de versões do cognitivismo que se apropriam do conhecimento construído no âmbito das neurociências, tornando-o parte de seus recursos explicativos para o comportamento humano (cf. Skinner, 1990). Uma análise do debate sobre as relações entre análise do comportamento e fisiologia mostra também que a questão é polêmica, mesmo quando não se transita para o campo das teorias cognitivistas (cf. Tourinho, 1999).
O tema dos eventos privados está entre aqueles que assumem certa centralidade quando as relações entre análise do comportamento e fisiologia são discutidas, em parte devido à freqüente definição skinneriana de privado como evento interno. Tourinho (1997) aponta algumas dificuldades geradas por aquela definição, bem como sua insuficiência diante de princípios mais básicos que orientam a interpretação behaviorista radical para o comportamento humano complexo. Uma vez que a identificação do privado com o aparato anátomo-fisiológico se mostra problemática, especialmente porque pode favorecer novas versões de internalismo, interditando as análises tipicamente externalistas e relacionais que caracterizam o recorte de uma ciência do comportamento, mostra-se ainda necessário esclarecer como se organiza a referência à fisiologia numa interpretação behaviorista radical para os eventos privados.
Admitindo-se que as afirmações skinnerianas a respeito do assunto não são sempre consistentes (cf. Hayes, 1994; Reese, 1996a; Tourinho, 1997), não se pretende reiterar os problemas derivados da associação eventual entre privado e interno. O objetivo deste trabalho foi identificar, em textos do próprio Skinner sobre eventos privados, elementos para uma demarcação mais precisa das fronteiras entre análise do comportamento e fisiologia. O estudo teve como base textos de Skinner (de 1945 a 1990) nos quais a problemática dos eventos privados é abordada. As referências à fisiologia foram categorizadas e analisadas em seis temas: as variáveis biológicas como constitutivas, mas não definidoras do fenômeno comportamental privado; a autonomia do recorte analítico-comportamental diante dos fatos biológicos/fisiológicos; os limites do controle do comportamento por eventos internos/fisiológicos; o comportamento privado como comportamento do organismo como um todo; a distinção entre localização, acesso, contato e conhecimento; e a preservação do recorte analítico-comportamental em situação de análise aplicada do comportamento. Por meio da análise de como estes temas se articulam no discurso skinneriano sobre eventos privados, pretende-se sugerir tanto a possibilidade de uma leitura coerente da independência e complementaridade entre análise do comportamento e fisiologia, quanto algumas condições para tal relação.

Variáveis Biológicas como Constitutivas, mas não Definidoras do Fenômeno Comportamental Privado

Uma ciência comportamental inicia com o fato de que as condições biológicas de um organismo são requisitos para processos comportamentais, na medida em que se está falando de comportamentos de organismos; tais variáveis são constitutivas do fenômeno comportamental, seja ele público ou privado, delimitando as possibilidades de ação do ambiente na produção de respostas do organismo. Mas ainda é necessário analisar a eventual necessidade de referência àquelas condições nas explicações providas por uma ciência do comportamento.

A especificação do status de componentes biológicos em explicações comportamentais é invariavelmente um esforço para esclarecer em que medida a análise comportamental pode ater-se às relações organismo-como-um-todo/eventos-que-lhe-são-externos (cf. Reese, 1996a; 1996b). Quando o tema dos eventos privados é o cerne do debate, o conceito de ambiente interno parece sugerir a participação de eventos internos fisiológicos na própria definição do fenômeno comportamental. É discutindo o alcance do conceito de ambiente interno, portanto, que Skinner (e.g. 1953/1965) oferece as primeiras indicações sobre como equacionar a referência a variáveis biológicas (doravante, serão consideradas basicamente variáveis fisiológicas para a análise do problema).
O ambiente é definido como eventos do universo capazes de afetar o organismo. Skinner (1953/1965) aponta que parte desse universo está sob a pele do organismo (isto é, condições anátomo-fisiológicas podem constituir o ambiente de um organismo), mas destaca dois aspectos: a) um conjunto de eventos do universo torna-se ambiente quando se faz diferenciado para o organismo, a partir da interação deste com contingências de reforçamento que lhe são externas; b) do ambiente, é dito que afeta o organismo e não partes do organismo.
O processo de diferenciação do universo interno (fisiológico) é dependente do mesmo tipo de processo envolvido na diferenciação do mundo físico que cerca o organismo. Universo interno e universo externo são condições para a ocorrência de processos discriminativos de suas partes, mas não definem o fenômeno comportamental propriamente dito. Partes do universo tornam-se partes do ambiente de um organismo quando passam a controlar diferencialmente suas respostas (antes disso, são parcelas do universo indiferenciadas para o organismo). Quando um fenômeno comportamental é descrito, a descrição diz respeito a uma relação, não a um estímulo particular. Uma dor, por exemplo, enquanto fenômeno comportamental (isto é, enquanto relação), não é identificada com nenhuma alteração fisiológica específica, embora uma tal alteração possa ser constitutiva de uma relação à qual se denomina "dor". "[Estímulos dolorosos] não são a mesma coisa que a ‘experiência de dor’" (Skinner, 1963/1969, p. 243); sequer são propriamente "estímulos" à parte da relação denominada experiência de dor. Afirmações correlatas podem ser feitas com respeito a relações comportamentais que envolvem elementos do mundo físico. A experiência de umidade não é a mesma coisa que umidade; esta sequer existe enquanto estímulo até que participe de relações comportamentais, isto é, até que o organismo se comporte discriminativamente com respeito a ela.
Os processos através dos quais as variáveis fisiológicas vêm a participar de relações comportamentais delimitam o alcance de explicações nelas baseadas. Em qualquer circunstância, as relações admitidas como propriamente comportamentais são aquelas das quais participa o organismo como um todo; um evento interno controla respostas discriminativas do organismo como um todo. A referência a eventos internos sob a forma de especificação do comportamento de partes do organismo ainda não corresponde a explicações comportamentais. Por exemplo, ao identificar a adoção de explicações neurofisiológicas pelo cognitivismo, Skinner (1990) comenta que "o cérebro é parte do corpo e o que ele faz é parte do que o corpo faz. O que o cérebro faz é parte do que deve ser explicado" (p.1206). Adiante, este tema será retomado, considerando-se especificamente o caso dos comportamentos privados.
Parte significativa da argumentação de Skinner sobre relações comportamentais que envolvem componentes internos consiste na crítica ao mentalismo e à teoria da cópia, segundo a qual o organismo armazena e consulta reproduções internas (mentais) do mundo a sua volta (e.g. Skinner, 1953/1965, 1963/1969). É através da discussão do conceito de sentimento, porém, e de suas relações com os diferentes sistemas de estimulação, que Skinner (e.g. 1963/1969, 1974) analisa de modo mais sistemático a participação de condições fisiológicas em fenômenos comportamentais.
O uso cotidiano do termo sentimento pode envolver tanto a referência a relações comportamentais quanto a eventos que participam destas relações (cf. Skinner, 1989d). "Em certo sentido, o sentimento parece ser tanto a coisa sentida quanto o ato de senti-la" (Skinner, 1963/1969, p.255). No que diz respeito ao "ato de sentir", ou ao sentimento enquanto relação comportamental, pode-se estar falando de respostas discriminativas de condições públicas ou privadas; pode-se sentir a aspereza de uma pedra (estímulo/propriedade de um evento público), ou a contração de um músculo (estímulo/propriedade de um evento privado). É freqüente a confusão entre "ato de sentir" e "coisa sentida", quando o sentimento envolve a discriminação de estímulos privados. Neste caso, a coisa sentida é uma condição corporal, produto colateral da história ambiental do indivíduo (Skinner, 1985) e sua especificação pertence ao campo da anatomia e da fisiologia (Skinner, 1974). A uma ciência do comportamento cumpre explicar os processos através dos quais respostas discriminativas de condições corporais tornam-se possíveis.

Três sistemas nervosos são apontados por Skinner (1974) como requeridos para o contato dos indivíduos com o ambiente, inclusive suas condições corporais: o sistema interoceptivo (através do qual o indivíduo entra em contato com estimulações derivadas dos sistemas digestivo, respiratório e circulatório), o sistema proprioceptivo (através do qual o indivíduo entra em contato com estimulações de músculos, tendões, juntas, etc., particularmente envolvido na discriminação da posição e movimento do corpo) e o sistema exteroceptivo (através do qual o indivíduo entra em contato com estimulação presente no ambiente circundante). Os estímulos que afetam o organismo através daqueles sistemas são designados, correspondentemente, estímulos interoceptivos, proprioceptivos e exteroceptivos. Quando o indivíduo sente algo interno, segundo Skinner, está reagindo discriminativamente a estímulos interoceptivos e proprioceptivos. "Dentre as coisas internas que são sentidas, há os estímulos proprioceptivos e interoceptivos … Também sentimos o comportamento, incluindo o comportamento muito fraco e as condições que precedem ou estão associadas com o comportar-se" (Skinner, 1963/1969, pp. 255-256). A análise das emoções pode basear-se nesta interpretação. Por exemplo, "respostas reflexas autonômicas a estímulos condicionados estão entre as emoções sentidas – por exemplo, a ‘ansiedade’ evocada por um estímulo pré-aversivo" (Skinner, 1963/1969, p.256).

Embora requeridos para o contato com o ambiente, os sistemas interoceptivo, proprioceptivo e exteroceptivo não promovem a discriminação de estímulos ambientais internos, papel reservado às contingências de reforçamento dispostas por uma comunidade verbal. Portanto, nem os estímulos internos se confundem com relações comportamentais, nem os sistemas, também internos, através dos quais se dá o acesso ao mundo de estímulos explicam a participação dos eventos internos em relações comportamentais. Na análise de eventos comportamentais privados, portanto, de modo semelhante ao que ocorre com processos comportamentais considerados públicos, é justificada a indicação de condições fisiológicas que possibilitam o fenômeno, ao mesmo tempo em que é necessário distinguir tais condições das relações comportamentais propriamente ditas.

Autonomia do Recorte Analítico-Comportamental diante dos Fatos Biológicos/Fisiológicos

Se relações comportamentais não se confundem com fatos ou relações ao nível anátomo-fisiológico, justifica-se que o analista do comportamento, ao lidar com o fenômeno comportamental, limite sua análise à relação organismo-meio, na expectativa de que as ciências biológicas especifiquem algumas das condições que tornam aquelas relações possíveis. Uma explicação comportamental, reconhece Skinner (1987), apresenta lacunas, na medida em que "estímulos e respostas estão separados no tempo e no espaço" (p.782) e tais lacunas só podem ser preenchidas "com os instrumentos e métodos da fisiologia" (p.782). Entretanto, a referência ao que torna as relações comportamentais possíveis não é indispensável para que as relações sejam adequadamente identificadas ou produzidas.
Historicamente, algumas tentativas de promover novas explicações para os fatos comportamentais foram insuficientes, segundo Skinner (1987), para afastar a perspectiva internalista na Psicologia. Thorndike (ainda de acordo com Skinner, 1987), com sua lei do efeito, explicava a própria possibilidade das conseqüências do comportamento afetarem o organismo apelando para sentimentos internos de satisfação/insatisfação (Skinner, ao contrário, relacionou "o efeito fortalecedor de um reforçador operante ao seu valor de sobrevivência na seleção natural da espécie" em 1987, p.782).
O behaviorismo de Watson (1930/1970) buscou uma integração com a Fisiologia, na expectativa de substituição da noção de mediadores mentais para o comportamento por mediadores fisiológicos, acessíveis à investigação empírico-experimental. Watson dedicou-se a uma descrição minuciosa (embora mais especulativa do que sugeria) da fisiologia dos sistemas receptores e efetores, a fim de especificar os componentes internos de relações comportamentais (cf. Watson, 1930/1970). A experiência de Watson, na interpretação de Skinner (1963/1969), não foi produtiva, na medida em que não promoveu uma melhor compreensão do próprio fenômeno comportamental e fomentou uma discussão a respeito de eventos internos ao organismo. Segundo Skinner (1971), "nem a introspecção, nem a fisiologia, provêem informação adequada sobre o que está acontecendo no interior do homem enquanto ele se comporta e … elas têm o mesmo efeito de desviar a atenção do ambiente externo" (p.195). Ao contrário destas soluções, quando, reconhecendo a existência de eventos privados, uma ciência do comportamento procura explicá-los como fenômenos comportamentais, o afastamento em relação às contingências ambientais não se reproduz, uma vez que os eventos privados estão sendo considerados "não como mediadores fisiológicos do comportamento, mas como parte do próprio comportamento" (Skinner, 1963/1969, p. 228).
Não só a ênfase em processos mentais ou fisiológicos tende a afastar o psicólogo das relações propriamente comportamentais. Segundo Skinner (1963/1969), "(a discussão sobre) a importância relativa da dotação genética na explicação do comportamento mostrou ser outra digressão inoportuna" (p.224). Embora reconhecendo a filogênese como nível de seleção do comportamento, Skinner (1990) insistirá no papel das contingências de reforçamento na produção e seleção de instâncias comportamentais observadas de um organismo. Afinal, "independentemente de qualquer dotação genética normal, um organismo variará entre atividade vigorosa e completa quietude, dependendo dos esquemas nos quais tenha sido reforçado" (Skinner, 1971, p.186).
Diferente do que ocorreu com Watson, Skinner afirma ter se distanciado da referência aos fatos biológicos ao iniciar seu programa de pesquisas com o conceito de reflexo. O reflexo, como unidade de análise de uma ciência do comportamento, "não era algo que acontecia dentro do organismo; era uma lei do comportamento" (Skinner, 1987, p.781). Mesmo as "terceiras variáveis" ("condicionamento", "drive" e "emoção"), postuladas como necessárias para a especificação de algumas regularidades do reflexo, eram localizadas "fora do organismo" (Skinner, 1987, p.781), correspondendo a operações realizadas pelo experimentador (embora o programa skinneriano tenha se detido apenas no condicionamento).
Também o fenômeno da percepção, usualmente identificado pela psicologia mentalista com eventos internos mentais ou fisiológicos, pode ser interpretada nos limites do recorte próprio de uma ciência do comportamento. Na percepção de estímulos (ou propriedades de estímulos) visuais, uma seqüência de eventos físicos e fisiológicos ocorre e é condição para o próprio fenômeno perceptivo (luz refletida, anatomia do aparelho visual, fisiologia da visão, cf. Skinner, 1963/1969). A percepção enquanto comportamento, porém, é um responder diferenciado ao mundo circundante, produzido por contingências de reforçamento. Neste caso, "aprendemos a perceber no sentido de que aprendemos a responder a coisas de modos particulares por causa das contingências das quais elas são parte" (Skinner, 1971, p.188). Novamente, tanto o mundo físico como estruturas orgânicas são requisitos para o fenômeno, mas não o definem, nem sua indicação permite a identificação das variáveis que podem de fato explicá-lo. "Não haveria, é claro, nenhuma percepção se não existisse um mundo para ser percebido, mas um mundo que exista não seria percebido se não houvesse contingências apropriadas" (Skinner, 1971, p.187).
Finalmente, se é possível falar de uma autonomia do recorte analítico-comportamental frente ao fatos anátomo-fisiológicos, isso não eqüivale a uma autonomia dos próprios fenômenos comportamentais frente aos fenômenos fisiológicos (ver, a propósito, Reese, 1996a). Os dois conjuntos de fenômenos, de um lado, são interdependentes; de outro, representam níveis diferentes de análise do comportamento dos organismos. Análise do comportamento e fisiologia estudam, cada uma, "parte do episódio comportamental" (Skinner, 1987, p. 782). Se são ciências independentes, são, ao mesmo tempo, ciências complementares. Do ponto de vista de uma Psicologia Comportamental, essa nova relação teria se instituído, segundo Skinner, com sua proposição do reflexo como unidade comportamental (cf. Skinner, 1931/1961).

Limites do Controle do Comportamento por Eventos Internos/Fisiológicos

A possibilidade de controle do comportamento por eventos internos/fisiológicos é usualmente examinada por Skinner como circunscrita por dois limites: as práticas reforçadoras de uma comunidade verbal e os sistemas nervosos que permitem o contato do indivíduo com as partes de seu próprio corpo.
Como o universo em geral, o universo privado, que inclui eventos internos anátomo-fisiológicos, é indiferenciado ao indivíduo até que contingências de reforçamento promovam sua diferenciação (Skinner, 1953/1965, 1974). Estas contingências podem ser de natureza física quando, por exemplo, promovem que partes do corpo controlem discriminativamente seqüências de comportamento motor (andar, pular, etc.), mas são de natureza social quando promovem o controle de respostas descritivas por eventos internos, diante das quais afirma-se que o indivíduo tem consciência (Skinner, 1971). A ênfase nas contingências sociais aparece, portanto, quando se está primariamente interessado em falar da participação de eventos internos no controle de respostas verbais, como descrições de sentimentos, emoções, pensamentos, atitudes, preferências, etc., fenômenos para os quais as teorias psicológicas usualmente se voltam, e com base nos quais postulam determinantes internos para o comportamento.
A dependência de contingências sociais para a aquisição de respostas descritivas de eventos privados decorre da impossibilidade do sujeito autonomamente observar e discernir a ocorrência daqueles eventos em seu corpo. A ação da comunidade verbal, por seu turno, é sempre baseada numa inferência daquelas ocorrências, o que limita o alcance de suas práticas reforçadoras na promoção de repertórios autodescritivos (Skinner, 1945). Dizer que a comunidade infere a ocorrência dos eventos privados significa mais propriamente dizer que ela age com base na observação de eventos públicos, tanto na instalação quanto na manutenção de respostas autodescritivas (Skinner, 1945, 1974). Os problemas decorrentes dos limites da ação da comunidade verbal são examinados por Skinner nas diversas obras nas quais discute o tema dos eventos privados. Considerando os objetivos deste texto, interessará apenas assinalar que, como decorrência da dificuldade de acesso da comunidade verbal aos eventos privados de um indivíduo, as contingências de reforçamento responsáveis pela aquisição de respostas autodescritivas sempre estão baseadas em eventos publicamente observáveis, razão pela qual a precisão de uma descrição de evento privado depende do grau de correspondência deste com os eventos públicos com base nos quais as respostas descritivas foram instaladas e são mantidas (cf. Skinner, 1945, 1974).
Não apenas as práticas reforçadoras de uma comunidade verbal limitam as possibilidades de aquisição de repertórios autodescritivos. O problema original reside na incapacidade do indivíduo discriminar com precisão eventos internos e isso resulta do fato de que "não temos nervos sensórios indo para as partes relevantes do corpo" (Skinner, 1989a, p.33). Voltando a examinar os sistemas nervosos através dos quais o indivíduo entra em contato com o universo público e privado, Skinner aponta que não apenas os sistemas interoceptivos e proprioceptivos, mas também o sistema exteroceptivo "desempenha um papel importante ao observarmos nosso próprio corpo" (Skinner, 1974, p.22). Isso decorre das limitações dos sistemas interoceptivo e proprioceptivo na identificação de alterações anátomo-fisiológicas. Usualmente, estímulos interoceptivos são "os estímulos principais aos quais se reage ao ‘sentir uma emoção’" (Skinner, 1953/1965, p.261), mas não suficientes enquanto fonte de controle de respostas autodiscriminativas. Por esta razão, "geralmente respondemos a estímulos desse tipo em combinação com estimulação exteroceptiva do ambiente circundante e nem sempre identificamos corretamente a fonte de estimulação" (Skinner, 1953/1965, pp.261-262). Uma eventual predominância de estímulos proprioceptivos ou interoceptivos no controle de respostas autodiscriminativas pode ser apenas momentânea e circunstancial, não representando uma autonomia de estímulos desta natureza no controle do comportamento. Diz Skinner (1974): "Estímulos proprioceptivos são dominantes quando uma pessoa descreve seu próprio comportamento no escuro, mas estão estreitamente relacionados com estímulos públicos usados pela comunidade verbal na instrução" (pp.25-26).
Quando Skinner (e.g. 1953/1965, 1974) aponta como limitadas as possibilidades de que eventos internos anátomo-fisiológicos controlem autonomamente respostas autodiscriminativas, o que está sendo indicada é a própria restrição dos sistemas nervosos que colocam o indivíduo em contato com o universo interno, em razão da qual estímulos interoceptivos e proprioceptivos podem controlar respostas autodescritivas apenas parcialmente e em associação com estímulos exteroceptivos. As práticas reforçadoras da comunidade verbal são uma tentativa de superar os limites da privacidade, possibilitando a autodescrição e o acesso público indireto aos eventos privados de um indivíduo, mas o componente inferencial envolvido no reforçamento daquelas respostas compromete a precisão da descrição.

O Comportamento Privado como Comportamento do Organismo como um Todo

Foi observado acima que, para Skinner, relações comportamentais são relações do organismo como um todo com o ambiente a sua volta. Não cabe, neste modelo analítico, ater-se ao comportamento de partes do organismo, ainda que relacionando-as a eventos ambientais, simplesmente porque se estaria diante de apenas uma parcela do que deve ser explicado por uma ciência do comportamento. A análise é a mesma para os chamados comportamentos privados ou encobertos. O conceito de encoberto, aqui, significa apenas inacessibilidade à observação pública direta, em razão de tratar-se de comportamento que ocorre "em escala tão reduzida, que não pode ser observado por outros – pelo menos sem instrumentos" (Skinner, 1953/1965, p. 263). Enquanto o conceito de estímulo privado pode corresponder a eventos particulares do organismo no contexto de relações comportamentais (assim como o conceito de estímulo público refere-se a eventos particulares do ambiente público que participam de relações comportamentais), o conceito de comportamento encoberto sempre diz respeito ao organismo como um todo, residindo a sua especificidade no limite de observabilidade pública.
O caráter encoberto de um comportamento é, segundo Skinner (1968), função de contingências de reforçamento dispostas no ambiente social. Todo comportamento é originalmente aprendido de forma aberta (publicamente observável) e passa ao nível encoberto como função de contingências sociais específicas. Ao passar para o nível encoberto, muda a observabilidade do comportamento, mas ele continua sendo emitido pelo organismo como um todo.
As teorias mentalistas são apontadas por Skinner (1968) como responsáveis pelo interesse no funcionamento de partes do organismo como modelo de explicação comportamental. Por exemplo, a teoria da cópia, na medida em que supõe a construção de reproduções internas do mundo, ao analisar o comportamento de ver, terá que postular este comportamento como executado por uma parte do organismo, que consulta um conteúdo interno com o qual não se confunde (cf. Skinner, 1968). Numa explicação comportamental, ao contrário, o ver, público ou privado, é sempre um comportamento do organismo como um todo e o fato de ser emitido na ausência da coisa vista significa apenas que uma vez aprendido de forma aberta pode ser emitido de forma encoberta, sem o suporte dos estímulos que estavam presentes durante o processo de aquisição da resposta (cf. Skinner, 1945, 1953/1965, 1968).
O interesse pelo cérebro na explicação do comportamento também está associado à aceitação da teoria da cópia e é apontado por Skinner (1985) como derivado da adesão do cognitivismo à teoria da informação, de acordo com a qual o organismo processa internamente informações abstraídas do ambiente e como resultado deste processamento se comporta. O "órgão processador" é o cérebro, e assim passa-se a falar de comportamentos humanos como comportamentos de parte do organismo. "Obviamente, não se diz que é o organismo como um todo que vê uma representação da realidade; é uma parte menor dele. A ciência cognitiva é forçada a dizer isso quando assume como modelo a teoria da informação" (Skinner, 1985, p. 293).
A análise de comportamentos como o ver na ausência da coisa vista, enquanto comportamento encoberto do organismo como um todo, exigirá grande esforço interpretativo por parte de Skinner. Ela é necessária, porém, para a própria sustentação do recorte analítico-comportamental como pertinente à investigação de problemas característicos do campo da psicologia, como o pensar, o imaginar, etc. A proposição do comportamento encoberto como comportamento do organismo como um todo representa, portanto, mais um modo de defender um recorte de análise psicológico/comportamental, que não se confunde, em nenhum momento, com o domínio das ciências biológicas, embora possa ser complementado pelas informações geradas neste domínio.

A Distinção entre Localização, Acesso, Contato e Conhecimento

Pertence à tradição mentalista em psicologia a suposição de que cada indivíduo tem um mundo interior, com o qual cultiva uma relação única, que em certa medida é incomunicável e determinante de seus comportamentos. São os sentimentos experimentados internamente, os pensamentos secretos, etc., que não podem ser conhecidos em sua manifestação genuína por mais ninguém e que controlam o comportamento privado e público. Skinner (e.g. 1963/1969) não rejeita a existência deste mundo interno ou o modo particular como ele é experimentado por cada um, mas ao reconhecer que eventos anátomo-fisiológicos podem participar de relações comportamentais, não apenas contraria a tradição mentalista, apontando que tudo que o indivíduo sente é o seu próprio corpo, como também questiona a própria possibilidade de conhecimento privilegiado do que se passa no interior de cada um.
Para questionar o caráter privilegiado do autoconhecimento, Skinner (e.g. 1945, 1953/1965, 1963/1969, 1974) discute, em diferentes momentos, quatro aspectos da participação de eventos internos em relações comportamentais: a localização, o contato, a acessibilidade e o conhecimento. Uma confusão entre estes aspectos tem propiciado a propagação de postulados internalistas acerca do comportamento humano.
Continuando com a problemática específica dos eventos anátomo-fisiológicos, pode-se dizer que alguns deles se convertem em estímulos interoceptivos ou proprioceptivos, na medida em que passam a participar de relações comportamentais. Estímulos interoceptivos e proprioceptivos estão localizados sob a pele do organismo e, portanto, podem ser considerados estímulos internos. É preciso lembrar, porém, que alguns estímulos relativos ao próprio organismo não estão propriamente dentro dele; por exemplo, o "suar" de um sujeito é uma alteração fisiológica que não se localiza sob a pele, e com o qual o próprio indivíduo pode entrar em contato através do sistema exteroceptivo.
Quando um estímulo interoceptivo ou proprioceptivo participa de relações comportamentais, pode-se dizer que o contato do próprio indivíduo com aquele evento é especial, no sentido de que a estimulação que o afeta é diferente daquela provida pelo contato que outros podem estabelecer com o mesmo evento. Skinner reconhece que "estímulos proprioceptivos e interoceptivos têm uma certa intimidade" (Skinner, 1963/1969, p. 230); com eles o indivíduo tem um "contato especial" (Skinner, 1963/1969, p. 225), um "contato íntimo" (Skinner, 1974, p. 22), mas isso significa apenas que a forma de estimulação não pode ser a mesma para outros. Por exemplo, "ninguém mais pode estabelecer o mesmo tipo de contato com [um dente inflamado]" (Skinner, 1953/1965, p. 257) que o próprio sujeito estabelece. De certo modo, a noção de privacidade significará, para Skinner (1963/1969), que cada indivíduo "está sujeito de forma única a certos tipos de estimulação interoceptiva e proprioceptiva" (p.226).
Reconhecido o caráter interno (localização) e familiar (tipo de contato) de certas estimulações anátomo-fisiológicas, as estimulações interoceptivas e proprioceptivas, a isso não corresponde um acesso ou conhecimento privilegiado. Como apontado anteriormente, o sujeito depende de contingências sociais para a aquisição e manutenção de repertórios autodiscriminativos.

O conceito de acessibilidade diz respeito não à localização, mas à possibilidade de condicionamento de respostas discriminativas. Considerando esta dimensão como apropriada para a definição do caráter público ou privado de um evento, consideram-se públicos os estímulos com respeito aos quais a comunidade pode condicionar respostas discriminativas de modo direto; são privados, por seu turno, eventos com respeito aos quais respostas discriminativas não podem ser diretamente condicionadas. Estímulos interoceptivos e proprioceptivos são privados no sentido de acessibilidade restrita; como decorrência, "nós usualmente respondemos a estímulos deste tipo em combinação com estimulação exteroceptiva do ambiente circundante" (Skinner, 1953/1965, p. 261). (Deve ser observado que a estimulação exteroceptiva que participa de processos discriminativos deste tipo pode ser originada do próprio corpo do indivíduo; podem ser mudanças em seu próprio aparato anátomo-fisiológico).
Conhecimento significa, de uma perspectiva analítico-comportamental, repertório discriminativo. Quando se está lidando com problemas como sentimentos e pensamentos, o repertório discriminativo envolvido é especialmente o verbal. Aos limites de acessibilidade dos eventos interoceptivos e proprioceptivos, em que pese a intimidade do contato que o indivíduo com eles estabelece, corresponde uma restrição no conhecimento possível daqueles eventos. Como afirma Skinner, a intimidade dos estímulos interoceptivos e proprioceptivos "não significa que possam ser conhecidos mais facilmente ou mais diretamente" (Skinner, 1963/1969, p. 230). Na medida em que o conhecimento daqueles eventos dependerá de contingências sociais, e que estas terão como base estímulos exteroceptivos, o conhecimento dos eventos privados será indireto e impreciso.
Skinner (1989a) não ignora a importância que a cultura passa a atribuir à observação e discriminação de eventos internos. Esta valorização é parcialmente justificada pelo caráter informativo dos relatos autodescritivos sobre probabilidade de comportamento futuro do sujeito. De todo modo, essas autodiscriminações são um produto cultural e compõem o que Skinner (1989a) denominará de self. Para ele, filogênese, ontogênese e cultura produzem, respectivamente, o organismo, a pessoa e o self. "Uma pessoa, enquanto repertório de comportamento, pode ser observada por outros; o self, como conjunto de estados internos que acompanham só é observado através do sentimento e da introspecção" (Skinner, 1989a, p. 28).
Com a distinção entre localização, contato, acesso e conhecimento, Skinner compatibiliza um reconhecimento da natureza especial do contato que o indivíduo estabelece com seu próprio corpo com a explicação do porquê este contato não corresponde a um conhecimento privilegiado, mas, ao contrário, a restrições ao autoconhecimento. Esta postura é inteiramente original na psicologia e inverte a lógica que justificava alguns postulados mentalistas, como a proposição de uma base interna e mais precisa para respostas autodescritivas frente a descrições de terceiros (o tradicional problema de asserções na primeira e na terceira pessoas). Da perspectiva skinneriana, por mais estranho que pareça, "é a comunidade que ensina o indivíduo a conhecer-se" (Skinner, 1953/1965, p. 261), ainda que cada um tenha de fato uma relação especial com o que lhe ocorre internamente.

A Preservação do Recorte Analítico-Comportamental em Situação de Análise Aplicada do Comportamento

Até aqui, a análise apontou fundamentalmente como a ciência skinneriana equaciona a referência a componentes internos fisiológicos para sustentar a definição de um recorte investigativo que se volta para as relações do organismo como um todo com os eventos que lhe são externos. Foi apontado, porém, que a independência de recortes da análise do comportamento e fisiologia não representa uma independência dos fenômenos investigados por cada ciência. Cabe, então, discutir adicionalmente a possibilidade de, em situação aplicada, a análise do comportamento confinar-se ao seu recorte relacional. A questão é polêmica, provavelmente por ser atravessada por problemas diversos (por exemplo, o efeito de restrições anátomo-fisiológicas geneticamente determinadas, as mudanças na sensibilidade a contingências produzidas por processos maturacionais, efeitos imediatos de alterações fisiológicas decorrentes de história ambiental, etc.), que não podem ser facilmente organizados num sistema interpretativo simples e compatível com práticas culturais fortemente instituídas (por exemplo, tratamento farmacológico de "problemas mentais", diagnóstico clínico orientado por sistema de classificação por síndrome, etc.). Ainda assim, é possível falar de autonomia do recorte analítico-comportamental em situação aplicada, o que Skinner faz considerando exatamente a intervenção clínica. Em um texto de 1988 (Skinner, 1988/1989b), tanto o internalismo mentalista quanto o fisiológico são rejeitados como modelo para a análise e intervenção do terapeuta comportamental.

Skinner (1988/1989b) fala da psicoterapia como a psicologia clínica de caráter internalista, e da terapia comportamental como modelo de intervenção baseado em supostos analítico-comportamentais. A primeira "tem freqüentemente preocupado-se com sentimentos, ansiedade, medo, raiva e coisas do tipo" (p. 74), enquanto terapeutas comportamentais se voltam para a história ambiental. Isso ocorre porque, para o analista do comportamento, "o comportamento problemático é causado por contingências de reforçamento problemáticas e não por sentimentos ou estados da mente problemáticos e nós podemos corrigir o problema corrigindo as contingências." (p. 74)
Uma vez que o sentimento seja identificado com uma condição anátomo-fisiológica que pode vir a participar de relações comportamentais, é preciso também notar que se trata de um produto da história ambiental do sujeito, tanto quanto o comportamento que precisa ser explicado. "Para cada estado sentido e denominado de sentimento, há presumivelmente eventos ambientais anteriores dos quais ele é função. A terapia comportamental dirige a atenção para o evento anterior, não o sentimento." (Skinner, 1988/1989b, p. 74)
O aparato anátomo-fisiológico produzido pela história ambiental (filogenética e ontogenética) é reconhecido como um aspecto relevante do fenômeno comportamental. "Como as contingências de reforçamento operante afetam processos fisiológicos é uma questão indubitavelmente importante" (Skinner, 1988/1989b, p. 82). No entanto, o terapeuta comportamental, no uso de métodos de avaliação e intervenção próprios da análise do comportamento, pode prescindir da referência àqueles eventos e daquele nível de análise do fenômeno comportamental. A suposição contrária, de que os métodos analítico-comportamentais são menos seguros, pode levar à adesão ao recorte internalista e não se justifica. "Os terapeutas comportamentais podem também se voltar para a fisiologia se não confiam em seus próprios métodos, mas seus métodos são tão objetivos quanto os da fisiologia." (p.82)
Tanto o internalismo mentalista quanto o fisiológico são reproduzidos no contexto de práticas culturais importantes e certamente não está ao alcance de um terapeuta comportamental promover a superação de tais práticas, mas aderir a elas corresponde a deixar de investigar e intervir com respeito às relações comportamentais propriamente ditas. Diz Skinner (1988/1989b):

"Não se pode brigar com a escolha da ciência médica como campo profissional, ou mesmo com os filósofos que pretendem examinar suas mentes através da introspecção, mas para cada terapeuta comportamental que, após descobrir um fato sobre o comportamento, procura uma explicação fisiológica, há um terapeuta a menos para estudar mais o próprio comportamento." (p.82, grifo dos autores)

Considerações Finais

A definição das condições de independência e complementaridade entre análise do comportamento e fisiologia tem se mostrado um assunto polêmico na literatura behaviorista radical e parece demandar, para ser equacionada, uma elaboração teórica consistente, como também (e, talvez, principalmente) pesquisa empírica sistemática, especialmente na área de aplicação clínica, onde o modelo analítico-comportamental apenas recentemente começou a ser explorado com maior intensidade (e onde as práticas culturais – também - favorecem fortemente recortes internalistas). É possível dizer que a polêmica se alimenta parcialmente de afirmações de Skinner, que, como reconhecido no início deste texto, não são sempre coerentes. Mas exatamente dos escritos de Skinner é possível derivar elementos que orientem de forma coerente a demarcação das fronteiras entre as duas ciências.
Nas obras aqui consideradas, nas quais o tema dos eventos privados constitui o interesse central, o modo como Skinner equaciona a referência à Fisiologia pode ser organizado num quadro definido pelas seguintes proposições: a) os sistemas interoceptivo, proprioceptivo e exteroceptivo são condição para o fenômeno comportamental privado, mas não definem aquela relação; b) estímulos interoceptivos e proprioceptivos não controlam autonomamente respostas autodescritivas; c) descrições do funcionamento de partes do organismo não são descrições comportamentais; d) localização, contato, acesso e conhecimento dizem respeito a aspectos diversos da relação organismo-ambiente, inclusive privado; e) no caso da estimulação interoceptiva ou proprioceptiva, a natureza diferenciada do contato está associada a restrições no acesso e impossibilidade do conhecimento; f) o recorte analítico comportamental frente aos fatos anátomo-fisiológicos tem validade não apenas enquanto campo de investigação, mas é pertinente também enquanto limite de intervenção.
O quadro definido acima representa, antes de tudo, uma contribuição original ao campo da Psicologia, capaz de estabelecer o domínio próprio de uma ciência comportamental frente a ciências com as quais a psicologia pode interagir proveitosamente para produzir soluções para os problemas humanos, mas diante das quais necessita afirmar seu recorte próprio de investigação e análise. Representa, também, uma leitura não apenas possível das proposições skinnerianas, mas uma leitura que pode ser argumentada como consistente com a proposição de comportamento enquanto fenômeno que diz respeito à relação do organismo como um todo com eventos ambientais que lhe são externos.

Referências

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Recebido em 27.07.1999 Revisado em 24.09.1999 Aceito em 24.01.2000
Sobre os autores:

Emmanuel Zagury Tourinho é Psicólogo, Doutor em Psicologia pela Universidade de São Paulo, Bolsista do CNPq e Docente do Departamento de Psicologia Experimental e do Programa de Pós-Graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento da Universidade Federal do Pará.
Eveny da Rocha Teixeira é graduanda em Psicologia na Universidade Federal do Pará e Bolsista de Iniciação Científica no Programa PIBIC/CNPq.
Josiane Miranda Maciel é graduanda em Psicologia na Universidade Federal do Pará e Bolsista de Iniciação Científica no Programa PIBIC/CNPq.

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sexta-feira, 3 de abril de 2009

Projeto: Meninos do Horto!









O tempo é muito lento para os que esperam
Muito rápido para os que têm medo
Muito longo para os que lamentam
Muito curto para os que festejam
Mas, para os que amam, o tempo é ETERNO

William Shakespeare


Seja nosso parceiro nesse projeto,ajude-nos no desenvolvimento dessas crianças, assim, teremos a certeza de que o medo não nos impediu de ama-las. "É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã".

Sala 356-3

O que é Engrama?

Caso H.M - Resumo



Henry Gustav Molaison,mais conhecido como H.M, foi o homem que ficou famoso mundialmente e mais examinado na história da neurociência. H.M,nasceu no dia 26 de fevereiro de 1926, em Hartford, filho de um eletricista acádio de Thibodeux,e de mãe irlandesa. Em 1983, foi submetido a uma cirurgia no cérebro para corrigir ataques epileticos que iniciou apos ter sofrido uma queda de bicicleta quando tinha apenas 9 anos de idade. A cirurgia removeu dois dedos dos tecidos dos hesmisférios direito e esqeurdo,cortando profundamente o hipocampo, no intuito de diminuir os ataques que estavam frenquentes,fortes e as dores insuportavéis. E o que é hipocampo? é uma estrutura localizada nos lobos temporais do cérebro humano, considerada a principal sede da memória e importante componente do sistema límbico. Sua função é de inverter a memória de curto prazo em memória de longo prazo, como também uma interação com as amigdalas estando mais envolvidas nas questões emocionais. Ocorrendo uma lesão no hipocampo o individuo não conseguirá construir o engrama estrutural, ou seja, novas memórias. De fato, os ataques tornaram-se menos frequentes, mas, trouxe outros danos para vida do paciente. H.M, não conseguia lembrar dos momento recentes de sua vida, cada rosto era eternamente novo para ele. O que ele absorvia ficava em sua mente por apenas 20 segundos, mas ainda assim sua inteligência básica era incomparável. Ele foi vitima de uma "amnésia profunda", ou, para dar o termo técnico, amnésia anterógrada severa e amnésia retrograda parcial. Ele não conseguia lembra momentos ocorridos em apenas 20 segundo e também não conseguia lembrar-se do momento da lesão. E o que é amnésia anterograda e retrograda? A anterograda: é aquela subseqüente de um trauma cerebral, a pessoa tem dificuldade ou incapacidade de se lembrar de eventos recentes, mas consegue se lembrar, quase que perfeitamente, de eventos ocorridos antes do trauma. A retrograda: é aquela que a pessoa consegue se lembrar de eventos posteriores ao trauma, mas não consegue se lembrar de eventos anteriores ao trauma cerebral. Ocorreu ainda uma lesão na área de broca e de Wernicke. Irei defini-las: afasia de Wernicke: está ligada a parte sensoria,consegue falar, mas sua maior dificuldando é a compreensão. Afasia de broca: está ligada a parte motora, consegue compreender, mas não consegue expressar. E tanto uma como a outra, localizam-se no hemisferio esquerdo do nosso cérebro. H.M só lembrava dos 17 anos para tras. Imaginem os conflitos psicológicos vividos por este homem.
H. M , foi acompanhado por diversos especialista da neurociência, um deles foi, Milner que passou a visita-lo regularmente e chegou a conclusão que a função da memória, assumia-se, era distribuída pelo cérebro e não dependente de uma região ou órgão neural. "O estudo seminal de Milner, baseado em seu trabalho com HM, foi publicado em 1962. Ele revelou que há pelo menos dois sistemas no cérebro responsáveis por criar memórias; um subconsciente, do "aprendizado motor", pelo qual as pessoas podem se lembrar como executar tarefas básicas, tais como andar de bicicleta; o outro, da memória declarativa, armazena fatos e experiências até que sejam lembrados conscientemente. Esse se baseia no hipocampo, parte do qual tinha sido removida do cérebro de HM". E assim viveu 50 anos tentando a cada dia colaborar e desenvolver as tarefas que davam para ele, chegando a falecer ano passado e doou seu cérebro deixando para nós um grande exmplo e a possibilidade de grandes descobertas para o avanço da neurociência.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Estudo dirigido...







Definir :
1) Plasticidade Cerebral
2) Memória declarativa (explícita)
3) Memória não-declarativa (implícita)
4) Memória de curto prazo
5) Memória de longo prazo
6) Memória de trabalho
7) Engrama - (dinâmico e estrutural) – excitação em circuito – potencialização pós-tetânica
8) Amnésia anterógrada
9) Amnésia retrógrada

10) Analise o texto sobre o “fenômeno madeleine de Proust” e discorra sobre a influência das emoções e dos sentimentos sobre a aquisição e evocação de memórias declarativas. Dê ênfase às relações do hipocampo e das amígdalas nesse processo.

11- Fale sobre as áreas de associação cerebrais correlacionando com o papel principal exercido por cada lobo cerebral.

12-Comente sobre o papel do córtex sobre o sistema límbico, destacando a relação comportamento versus conduta.

13- Comente sobre o papel do sistema límbico sobre o comportamento agressivo e social.

14- Explique as sensações emocionais com base no circuito de papez.

15- A Memória é um processo ativo. Esta afirmação é:
A. falsa, porque a memória está livre da interferência de sentimentos ou vivências;
B. verdadeira, porque a memória envolve um processo de desdobramento da informação;
C. falsa, porque a memória reproduz fielmente a realidade, tal qual ela se apresenta;
D. verdadeira, porque a memória envolve um processo de transformação da informação.

16- Para que a informação fique guardada na memória a longo prazo, é necessário que ela seja:
A. repetida e recordada;
B. visualizada e fixada;
C. recordada e deslocada;
D. repetida e codificada.

O que é a doença de Alzheimer?




A doença de Alzheimer é a mais comum das chamadas demências degenerativas, ou seja, doenças progressivas que são caracterizadas por dificuldade de memória (prejuízo da capacidade de aprender novas informações ou de recordar informações anteriormente aprendidas), associada a diversos déficits cognitivos (ver adiante), os quais levam ao comprometimento das funções sociais e funcionais do indivíduo. As alterações cognitivas podem se manifestar na forma de afasia (dificuldade ou incapacidade para falar ou para compreender o que é falado, escrito ou gesticulado), apraxia (ou seja, comprometimento na capacidade de executar determinadas movimentos voluntários e propositados, apesar de não haver alteração de força, sensibilidade ou de compreensão para realização das mesmas), agnosia (incapacidade de reconhecer e de identificar objetos e de saber para que servem, apesar das funções sensitivas intactas) e comprometimento das funções executivas, como planejamento, organização e elaboração de pensamentos abstratos.

Alterações de personalidade e de afeto estão freqüentemente associadas a estes sintomas. No entanto, o nível de consciência permanece preservado até estágios mais avançados da doença.

Que doença é essa?
Foi descrita pela primeira vez pelo médico Alois Alzheimer, em 1907.
Essa doença é erroneamente conhecida pela população como “esclerose” ou “caduquice”.
Mas é uma forma de demência cuja causa não se relaciona com a circulação ou com a arteriosclerose. É devida à morte das células cerebrais que levam à uma atrofia do cérebro.
A doença de Alzheimer é a causa mais comum de declínio das funções mentais do idoso em todo o mundo, representando um grande problema não só para os pacientes afetados mas também para as pessoas que cuidam desses pacientes (familiares ou não).
A doença de Alzheimer acarreta a perda progressiva das funções intelectuais do indivíduo.
O declínio das funções mentais na doença de Alzheimer leva ao prejuízo da memória, afetando simultaneamente alguma outra função intelectual (por exemplo, a linguagem, a capacidade de cálculo e/ou aprendizado, entre outras) ou ainda uma alteração no comportamento.
A doença de Alzheimer atinge as células nervosas do cérebro, principalmente aquelas relacionadas à memória e ao comportamento.
O início da doença é de difícil percepção, já que normalmente ocorre de maneira gradual, sendo as primeiras manifestações relacionadas a falhas de memória. No começo, são os pequenos esquecimentos, normalmente aceitos pelos familiares como parte do processo normal de envelhecimento, que vão se agravando gradualmente.
Os pacientes tornam-se confusos e por vezes agressivos, passam a apresentar alterações de personalidade, com distúrbios de conduta e terminam por não reconhecer os próprios familiares e até a si mesmos, quando colocados frente a um espelho.
À medida que a doença evolui, tornam-se cada vez mais dependentes de terceiros, iniciam-se as dificuldades de locomoção, a comunicação se inviabiliza e passam a necessitar de cuidados e supervisão integra, até mesmo para as atividades elementares do cotidiano como alimentação, higiene, vestir, etc.
Sabe-se que a doença afeta cerca de 5% da população com mais de 65 anos de idade. Atualmente, 17 a 25 milhões de pessoas no mundo todo são afetadas pela doença de Alzheimer. Estima-se que nos EUA existam cerca de quatro milhões de pacientes portadores da doença, e no Brasil, aproximadamente um milhão. Para pacientes e familiares a doença de Alzheimer tem conseqüências físicas e emocionais. O declínio das funções intelectuais e as alterações do comportamento na doença fazem com que o paciente perca aos poucos a capacidade de realizar as tarefas rotineiras, ou seja, as atividades do dia-a-dia, tornando-o cada vez mais dependente de cuidados, levando a uma grande sobrecarga para o cuidador.

A causa da doença de Alzheimer ainda não é conhecida pela ciência.
Existem várias teorias, porém de concreto, aceita-se que seja uma doença geneticamente determinada, não necessariamente hereditária (transmissão entre familiares).

Todas as pessoas com dificuldade de memória têm demência? Elas irão desenvolver a doença de Alzheimer?
Não. Para que se estabeleça o diagnóstico de demência é necessário que o déficit de memória seja suficientemente importante para interferir com as capacidades funcionais do indivíduo. A doença pode ser difícil de diagnosticar em pessoas idosas, nas quais dificuldade de memória é comum - é necessário acompanhamento para que se determine a deterioração das capacidades funcionais. Muitas vezes, o próprio paciente com demência é incapaz de perceber adequadamente as suas habilidades cognitivas - ele/ela não se queixa da dificuldade de memória, sendo necessárias informações complementares dos familiares próximos. Estudos demonstram que queixas de memória da maioria das pessoas não se correlacionam adequadamente com seus níveis funcionais e não são preditivos do desenvolvimento de demência. As queixas de dificuldade de memória e de "esquecimentos" em pessoas muito preocupados são geralmente relacionadas com traços de personalidade do indivíduo ou com depressão. O relato de um familiar ou do companheiro/a de que o indivíduo com queixa de memória é capaz de realizar as suas funções com a mesma habilidade anterior auxilia na identificação de idosos não demenciados, enquanto que a observação pelo familiar de comprometimento, ainda que leve, da capacidade funcional devido a alterações cognitivas é um indicador sensível de futuro desenvolvimento de demência.

Doença de Alzheimer e demência são sinônimos?
Não. O termo "demência" é usado para descrever uma síndrome (ou seja, um conjunto de sinais e de sintomas), a qual é caracterizada por perda progressiva das funções intelectuais adquiridas, como, por exemplo, memória, linguagem, capacidade de pensamento abstrato, decorrente de uma série de patologias distintas. Estima-se que de 50 a 80% dos casos de demência sejam devidos a à doença de Alzheimer. Além desta, outras patologias podem levar a demência, como demência fronto-temporal (a qual inclui a esclerose lateral amiotrófica com demência), demência com corpos de Lewy, doença de Pick, doenças vasculares, hidrocefalia, traumatismos cranianos, doenças infecciosas (como, por exemplo, doença de Whipple, sífilis e AIDS), doença de Parkinson, doenças degenerativas do sistema nervoso central (tais como doença de Huntingdon, paralisia supranuclear progressiva, degeneração nigro-estriatal, degeneração espinocerebelar, doença de Hallervorden-Spatz, leucodistrofias), doença de Creutzfeld-Jakob, esclerose múltipla, neoplasias, doenças endócrinas (como hipotireioidismo, hipercalcemia e hipoglicemia), doenças imunológicas (lúpus eritematoso sistêmico e outras vasculites), deficiências nutricionais (carência de tiamina, niacina e vitamina B12), uso crônico de álcool ou de outras drogas, insuficiência renal e hepática e a síndrome demencial associada a depressão. Cada uma destas patologias tem suas peculiaridades, sinais e sintomas distintos, que permitem ao médico diferenciar uma da outra. Da mesma forma, elas têm evoluções e tratamentos também diferentes, motivo pelo qual é tão importante que se estabeleça o diagnóstico correto, permitindo melhor prognóstico do paciente. Algumas destas doenças são facilmente excluídas pelos dados da história, da evolução ou do exame físico; para outras, no entanto, são necessários exames adicionais. A seleção destes deve ser individualizada de acordo com o caso - ver mais adiante.

Dez sinais de alerta sobre a doença de Alzheimer
1 perda da memória recente afetando a capacidade de trabalho;
2 dificuldade em desempenhar tarefas familiares;
3 problemas de linguagem;
4 desorientação no tempo e no espaço;
5 diminuição na capacidade de decisão;
6 problemas com o pensamento abstrato;
7 confundir os lugares das coisas;
8 mudanças na personalidade;
9 mudanças no humor e comportamento;
10 perda de iniciativa.


http://www.classiclife.com.br/medicina/med_0004a.html

Memória




A memória traz em si um filtro poderoso para nos possibilitar esquecer, senão enlouqueceríamos, explica Ivan Izquierdo, neurocientista, pesquisador da UFRGS, autor de “Questões sobre memória” e “A arte de esquecer” (Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 21.ago.2004, Revista Vida, n. 37, p. 16). O aspecto mais notável da memória é o esquecimento, diz James Megaugh, professor de neurobiologia da Universidade da Califórnia. A formação e a evocação de memórias ocupam muitas células neurais, e torna-se preciso liberar espaço. Esse espaço é saturável, diz Izquierdo, e é impossível medi-lo.

A ciência divide a memória em vários tipos, segundo a duração e o conteúdo das lembranças. A mais efêmera chama-se memória de trabalho, com duração de segundos ou minutos após um evento. Dura apenas o necessário para realizar uma tarefa. A memória de curta duração dura de uma a seis horas. A memória de longa duração promove modificações bioquímicas em diversas regiões cerebrais para possibilitar o arquivo permanente.

As memórias de longa duração podem ser subdivididas: 1) declarativas; e 2) procedurais ou não-declarativas.

As memórias declarativas podem ser exprimidas verbalmente. Subdividem-se em memória epsódica (de momentos marcantes, associados a estados emocionais) e em memória semântica (um conhecimento memorizado ao longo da vida, mas sem associação a um evento específico: Brasília é a capital do Brasil).

As memórias não-declarativas não podem ser verbalizadas. Também subdividem-se em duas: a memória do condicionamento (faz-nos frear ao sinal vermelho) e a memória de hábitos (por se repetirem tanto, as atividades tornam-se automáticas: caminhar, andar de bicicleta).

Três fatores colaboram para uma memorização eficiente: a atenção, a motivação para realizar determinada tarefa, no caso de aprendizado, e a carga afetiva ou emocional, explica Ricardo Oliveira de Souza, neuropsiquiatra. A melhor ‘ginástica’ para o cérebro é uma atividade intelectual prazerosa, diz ele. Em adultos sem doenças neurológicas e jovens, a queixa de memória ruim geralmente se deve a distúrbios de ansiedade ou estresse, diz Ricardo.

Com o passar dos anos, as lembranças mais antigas ficam mais nítidas em relação às recentes, pois foram fixadas num tempo com melhor funcionamento das conexões neurais, explica Sérgio Schmidt, neurofisiologista. Nenhuma substância tem eficácia comprovada para melhorar a memória, diz ele.

Existem pessoas com 80 anos e memória fantástica, e jovens com dificuldade de lembrar, observa Izquierdo. Ninguém precisa de remédio para a memória. A leitura é uma espécie de natação para o cérebro. Exercita a memória, a só tempo, em suas várias faces: de trabalho, de longo prazo, visual, auditiva, a linguagem e a criatividade. A TV seria como um ‘fast-food’, pois apresenta informações prontas, digeridas.

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O cérebro é estimulado pela atividade, ou seja, quanto mais se memoriza conteúdo, mais ele é capaz de armazenar informações, de acordo com Geraldo Possendoro, psiquiatra e pesquisador em psicobiologia na UNIFESP (Folha de S. Paulo, São Paulo, 08 ago. 2006, Fovest - Especial, p. 3/4).

O armazenamento da informação deve ser resistente. A repetição do conteúdo melhora a memorização, segundo Ana Alvarez, fonoaudióloga, doutora em ciências, autora do livro ´Deu branco`. Muitas vezes, a pessoa acha ter dificuldade de memorizar, mas, na verdade, o problema está no entendimento da matéria. O problema do ´branco´ (continua Ana Alvarez) pode acontecer por ansiedade, nervosismo ou estresse, como o medo de falhar e a pressão colocada pelas pessoas sobre si mesmas (id.).

Quanto mais a pessoa fazer associação, mais facilidade terá para lembrar, diz Sonia Brucki, neurologista, integrante do grupo de neurologia cognitiva e do comportamento do Hospital das Clínicas de São Paulo. Relacionar ajuda a gravar fatos (id.).
O estudante deve ir para a prova centrado na razão, e não no lado emocional. Se a energia está muito voltada para o emocional, o cérebro não consegue desenvolver o cognitivo, afirma Maria Irene Maluf, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia (id.).
São dicas para evitar o ´branco´: 1) antes de começar a prova, faça um breve relaxamento, respirando profundamente; 2) comece pelas questões envolvendo os assuntos sobre os quais tenha mais domínio; 3) procure lembrar-se do contexto no qual aprendeu a matéria (o professor, a aula); 4) mantenha a serenidade, pois o pânico só aumenta a descarga excessiva de adrenalina e gera mais problemas para o cérebro; 5) ler num ambiente calmo, manter a atenção voltada ao estudo e dormir bem podem ajudar na memorização das matérias; 6) tentar relembrar o conteúdo depois de estudar, fazer exercícios e repetir em voz alta são formas de testar se as informações foram bem fixadas (id.).
Os tipos de memória são: 1) memória de curto prazo e memória de trabalho; 2) memória de longo prazo, subdivida em (2.1.) explícita e (2.2.) implícita (memória para procedimentos, como andar de bicicleta, jogar futebol, dar nó em gravata). A memória de longo prazo explícita abrange: (2.1.1.) episódica (armazena eventos relacionados ao tempo) e (2.1.2.) semântica (armazena conceitos e significado de palavras) (id.).
Constitui desafio para os neurocientistas compreender o mecanismo cerebral pelo qual se ligam cerca de 100 bilhões de neurônios, organizados em unidades maiores para armazenar ou alterar as memórias.

A memória imediata do ser humano pode envolver-se com sete informações ao mesmo tempo, mas apenas uma delas irá transformar-se em conhecimento adquirido, segundo o Massachusetts Institute of Technology (MIT).

Mnemósine, deusa grega da Memória, mãe das Musas, é a raiz de todas as artes humanas, da história à astronomia.

LATERALI- 1

Lateralidade e dominância cerebral: abordagem histórica

Ao longo da história das neurociências muitos dos conhecimentos acerca dos fundamentos biológicos dos comportamentos humanos têm surgido estreitamente ligados ao conceito de lateralização hemisférica ou dominância cerebral, isto é, às diferenças de funções entre os dois hemisférios do cérebro.
Na verdade, a organização do cérebro em dois hemisférios, direito e esquerdo, parece ter como corolário que cada uma destas suas partes tem a seu cargo os acontecimentos motores e sensoriais que ocorrem na metade oposta (contralateral) do corpo e do espaço. Esta regra geral, se bem que um tanto esquemática e redutora (hoje reconhece-se que a complexidade do cérebro, um super-sistema aberto e que integra em si muitos outros sistemas diferenciados e complexos não se compadece com estes "reducionismos" simplistas) levou à ideia de que cada indivíduo, dotado de um grande potencial cerebral, utiliza o seu cérebro de uma forma particular. Assim, enquanto alguns se apoiariam mais nas capacidades do seu hemisfério esquerdo, parecendo dar prioridade à análise, ao raciocínio e à lógica, outros, pelo contrário, mais apoiados no seu hemisfério direito, dariam prioridade à síntese, à intuição, à visão global e à imaginação .
Esta noção de "dominância cerebral" apresenta um interesse teórico considerável e coloca uma multiplicidade de questões quanto aos seus caracteres, à sua origem, ao seu significado e, embora tenha uma "história já antiga", funcionalmente associada com a "história da afasia" , só recentemente foram enunciados e abordados com clareza os seus fundamentos neurobiológicos, sob o impulso do neurologista americano Norman Geschwind que, aliando os seus conhecimentos enciclopédicos a um espírito de síntese e intuitivo fora do comum, soube abrir um amplo campo de reflexões e de investigação e fazer, com razão, do conceito de dominância cerebral um ramo de parte inteira das Neurociências que em muito ultrapassa o terreno da Biologia.
Broca e a dominância do hemisfério esquerdo para a linguagem
Se bem que o homem pareça ter-se apaixonado desde a mais remota Antiguidade e ao longo de toda a sua história pela questão das diferenças entre lado direito e lado esquerdo, só em 1865 surgiu aquela que parece ter sido a primeira demonstração científica duma desigualdade de função entre os dois hemisférios cerebrais. Com efeito, nesse ano, o cirurgião parisiense Paul Broca apresentou perante a Sociedade de Antropologia uma série de argumentos comprovativos de que "a perda da faculdade da linguagem articulada" estava ligada a uma lesão situada no hemisfério esquerdo, mais precisamente na parte posterior da circunvolução frontal inferior (área do cérebro hoje conhecida por "área de Broca"), sugerindo uma ligação entre uma função cerebral, a linguagem falada, e uma parte específica do cérebro, o seu hemisfério esquerdo. Mais tarde, no ano de 1876, Karl Wernicke descobriu que a lesão de uma parte diferente do cérebro, no seu hemisfério esquerdo, causava também problemas na linguagem mas mais ao nível da compreensão do que da expressão. Essa área, hoje conhecida por "área de Wernicke", situa-se na parte posterior do lobo temporal e parece encontrar-se conectada à área de Broca através de um conjunto de fibras nervosas designadas por "arcuate fasciculus" .
Estava assim "reconhecida" a lateralização hemisférica da linguagem que, todavia, parece ter sido "descoberta" algumas décadas antes (1834-1835) por Mark Dax, um médico de província dotado de um excelente espírito de observação e que, embora não tendo formulado qualquer teoria a propósito nem se tenha enquadrado em nenhum movimento científico relevante, descreveu um conjunto de três dezenas de doentes que apresentavam uma associação entre a afasia e a paralisia dos seus membros direitos . Aliás, de acordo com alguns relatos de Benton , é provável que observações idênticas tenham sido feitas muito antes, havendo referências muito antigas à concordância da paralisia dos membros direitos com os defeitos da linguagem, observação que qualquer profissional de saúde minimamente observador, que trabalhe num serviço em que existem doentes com lesões cerebrais, não deixa de constatar. Broca, porém, tinha um modelo de estudo, a teoria frenológica de Franz Gall, que propunha a existência de órgãos capazes de produzirem funções psicológicas isoladas e, no essencial, a sua contribuição consistiu em dizer que esses órgão não se distribuíam simetricamente pelos dois hemisférios, mas que a função da linguagem existia só no lado esquerdo do cérebro. Na sequência dos trabalhos de Broca, entretanto, surge mais tarde, em 1864, um texto de John Hughlings Jackson, neurologista inglês responsável por importantes descobertas relacionadas com a epilepsia, a relatar a perda da fala na sequência de lesões cerebrais do hemisfério esquerdo ao mesmo tempo que, por volta de 1870, Liepman confirmava que uma lesão nessas mesmas áreas cerebrais produzia ataxia, isto é, a incapacidade de realização de movimentos voluntários, mas apenas quando o paciente era instruído para a realização de tais movimentos.
Estas "descobertas" tiveram obviamente um grande impacto na ciência da época e, a partir daí, muitas foram as sugestões de que, tal como a linguagem era própria do pensamento humano, a assimetria funcional se tornava própria do cérebro humano e, por isso mesmo, o hemisfério esquerdo, detentor de uma capacidade que o direito não tinha, se tornava o "hemisfério dominante". Broca sugeria mesmo que podia existir uma ligação entre esta descoberta e o fato de se ser dextro ou canhoto, sugestão que, apesar de simplista e bastante afastada daquilo que hoje se sabe sobre esta realidade, levou ao aparecimento de preconceitos e atitudes de discriminação dos canhotos que perduram ainda no conhecimento popular .
Lateralização da linguagem vs preferência manual
A "preferência" manual, isto é, o fato de se utilizar uma das mãos mais do que a outra numa maioria de tarefas, associada a uma maior "competência" ou habilidade e força da "mão preferida" relativamente à sua oposta (conceitos subjacentes à ideia de "lateralidade" ou "manualidade", traduções frequentes do termo anglo-saxónico "handedness"), passou então a ser considerada como a manifestação mais simples e mais evidente da "dominância cerebral": o hemisfério esquerdo, que dirige a motricidade fina da mão direita, constitui para a maior parte da população o hemisfério dominante para esta atividade. Esta noção levou mesmo ao aparecimento de questionários e outros instrumentos para "medir a manualidade", como é o caso do Edinburgh Handedness Inventory , entre outros, que se impuseram como um meio simples para avaliar, na prática diária, este aspecto da lateralização funcional e cujos resultados, obtidos em estudos realizados em diversos países, apontam para a probabilidade de os dextros representarem mais de 90% dos indivíduos, qualquer que seja o seu meio cultural (embora apenas 70% da população pareça ser de "dextros puros", ou seja, que efetuam todos os atos exclusivamente com a mão direita), tendo esta constatação permitido o aparecimento de algumas teorias acerca da "origem biológica" desta distribuição .
No entanto, o estudo dos "canhotos", que se aparentava como um terreno potencialmente frutuoso para abordar os mecanismos da dominância cerebral, parece levantar mais problemas do que apontar soluções. Na verdade, como confirmaram os estudos realizados já nos anos 60 com o teste de Wada , ou "Intracarotid Sodium Amobarbital Procedure (ISAP)", técnica inventada em 1949 pelo físico Juhn Wada e que permite anular momentaneamente a função de uma determinado região cerebral quando se injeta directamente na artéria que a irriga uma solução de amital sódico , parece que a organização do cérebro do canhoto, longe de ser a imagem em espelho da do dextro, possui as suas próprias características que parecem resultar, mais do que de regras diferentes das do dextro, da ausência dos mecanismos presentes neste último . Estes estudos, de fato, hoje confirmados pelas mais modernas técnicas de neuroimagem, como a Ressonância Magnética Funcional (fMRI) ou a Tomografia por Emissão de Positrões (PET), mostraram que o hemisfério esquerdo é responsável pelos processos da linguagem na enorme maioria dos dextros mas também o é em mais de metade dos canhotos e ambidextros . Como diz Caldas, pode, por isso, dizer-se que "lateralidade dextra e a lateralização da linguagem do hemisfério esquerdo são fenômenos que se associam com grande frequência mas cuja associação não constitui uma relação funcional", sendo possível que se trate de "duas características independentes, geneticamente determinadas"
Assim, a ligação que Broca pressentia entre lateralização da linguagem e preferência manual, se é verdadeira para os dextros, revelou-se inexata ou pelo menos de natureza diferente para os canhotos. Por estranho que pareça, no entanto, só cerca de um século depois de ter sido descrita esta assimetria funcional dos dois hemisférios cerebrais é que surgiram os primeiros relatos sobre as suas diferenças anatômicas, como veremos a seguir.
Funções do hemisfério direito
Ao longo dos tempos, depois das descobertas de Broca, vários estudos desenvolvidos para a compreensão dos casos de afasia se realizaram e acabaram por trazer mais suportes para a ideia de um "hemisfério dominante". Alguns desses suportes teóricos vieram dos estudos realizados com pacientes que sofreram lesões cerebrais, enquanto outros provinham do estudo de sujeitos com graves crises de epilepsia que eram tratados com a remoção lesional de pequenas parcelas de massa cerebral na região atingida, como foi o caso dos vários estudos desenvolvidos por Penfield e colegas nos anos 50 .
As evidências desses estudos, porém, apontavam para que as lesões no hemisfério esquerdo de sujeitos dextros resultam em afasia para 60% dos casos comparados com 2% se as lesões ocorrerem no hemisfério direito, ao mesmo tempo que nos canhotos as lesões no hemisfério esquerdo produzem afasia em aproximadamente 30% dos pacientes contra 24% dos lesionados no hemisfério direito. Estes dados acabaram por levar à pesquisa das funções específicas do hemisfério direito que, apesar de considerado "inferior" relativamente ao seu hemisfério contralateral, parecia coordenar funções não menos importantes.
Assim, para além da descoberta de que as lesões do hemisfério direito produzem alterações na compreensão semântica da linguagem bem como na sua prosódia (entoação, pausas, etc.) quer semântica quer emocional (cariz emocional da linguagem falada), uma das principais anomalias encontradas em numerosos indivíduos que sofreram uma lesão hemisférica direita é a perda de certas capacidades perceptivas, em particular as que dizem respeito à percepção das relações espaciais entre os objetos (apraxia visuoconstrutiva). A estas dificuldades acrescenta-se, com frequência, uma outra situação bem conhecida e que consiste na incapacidade de um paciente com lesão hemisférica direita manipular o espaço próximo em virtude de uma síndrome de heminegligência esquerda (neglect), fazendo com que apenas seja tida em conta a parte direita do seu campo visual e/ou do seu próprio espaço corporal, dificuldade que se manifesta no fato do indivíduo ter tendência para ignorar os estímulos do seu hemicorpo esquerdo, podendo mesmo chegar à perda total da sua consciência (hemiassomatognosia).
O hemisfério direito do cérebro, além disso, parece também coordenar importantes funções relacionadas com a aprendizagem de certas categorias de estímulos que têm em comum o necessitar de um tratamento rápido e global da informação, como é o caso do reconhecimento de rostos, função frequentemente afetada em pessoas com lesão hemisférica direita (prosopagnosia), sendo também importante o seu papel na memória espacial ou topográfica. Por outro lado, ainda, é hoje reconhecido por todos que a lesão do hemisfério direito cerebral provoca com muita frequência uma perturbação profunda da personalidade e da afetividade, produzindo no indivíduo uma indiferença afetiva muito característica .
O estudo de sujeitos com "cérebro dividido" (split-brain)
O conhecimento da distribuição das funções por cada um dos hemisférios cerebrais desenvolveu-se, fundamentalmente, na sequência de estudos realizados com pacientes calasotomizados, ou seja, pacientes a quem foi feita uma calosomia (seccionamento do corpo caloso) como forma de tratamento cirúrgico de epilepsias graves, tentando impedir a disseminação da actividade epiléptica de um lado do cérebro para o outro. O estudo nesses pacientes parecem também mostrar que cada hemisfério é capaz de funcionar independentemente quando os dois são isolados um do outro
Entre os investigadores que utilizaram este tipo de estudos destaca-se, sem dúvida, Roger Sperry que, em meados da década de 1960, iniciou uma série de estudos em animais com "cérebro dividido" e depois os alargou ao estudo com humanos, trabalho que lhe viria a permitir a obtenção do prêmio Nobel em 1981 .
A história da investigação em pessoas com "cérebro dividido", porém, começou muito antes de Sperry , havendo referências que se reportam já a trabalhos desenvolvidos por Fechner, no século XVIII, um dos pioneiros da psicologia experimental que acreditava que se as duas metades do cérebro fossem divididas longitudinalmente pelo meio poderia produzir-se algo como a duplicação de um ser humano . Por outro lado, tudo indica que a primeira intervenção cirúrgica de seccionamento do corpo caloso para separação cirúrgica dos dois hemisférios cerebrais se realizou em 1940 por intermédio de William VanWagenen. Além destes, por sua vez, também os trabalhos desenvolvidos por Penfield, Roberts e colegas (1959) no tratamento de epilepsias graves parecia apontar para a utilidade deste tipo de patologias no estudo da dominância cerebral. Sperry e colegas, no entanto, desenvolveram procedimentos de avaliação pelos quais se introduz informação num ou noutro hemisfério de sujeitos com "cérebro dividido", podendo as respostas de qualquer um dos hemisférios ser observadas independentemente. No método usado por estes investigadores, a informação é introduzida no cérebro a partir do campo visual direito ou esquerdo (ver gravura em http://www.epub.org.br/cm/n15/mente/lateralidade.html) e, enquanto o sujeito fixa um ponto central, um estímulo (por exemplo uma palavra) é rapidamente mostrado durante apenas 0,1s para eliminar alterações do campo visual provenientes de movimentos oculares. Com estas investigações, Sperry e colegas acabam por concluir que cada hemisfério desligado se comportava como se não estivesse consciente dos acontecimentos cognitivos do hemisfério parceiro. Segundo as suas próprias palavras , "cada metade cerebral parecia ter o seu próprio domínio cognitivo, em grande medida independente, com as suas próprias experiências perceptivas privadas de aprendizagem e memória, estando todas elas aparentemente esquecidas dos acontecimentos correspondentes no outro hemisfério".
O trabalho desenvolvido por Sperry, apesar de algumas generalizações excessivas, foi depois continuado e aprofundado por autores como Michael Gazzaniga (seu colaborador directo), Bogen e Vogel, autores que, de alguma forma, apesar de confirmarem a especificidade de cada hemisfério cerebral na coordenação de funções cognitivas e motoras, procuraram demonstrar que, mesmo após o seccionamento do corpo caloso, os dois hemisférios cerebrais continua a comunicar um com o outro de alguma maneira.
Geschwind e a descrição morfológica das assimetrias cerebrais
Norman Geschwind é também uma referência obrigatória quando se pretende estudar a história da lateralização hemisférica cerebral. Este autor, na verdade, num curto artigo publicado em 1968 com o seu colega Levitsky , reactualizou a questão das assimetrias cerebrais e lançou ao mesmo tempo as bases de toda uma corrente científica respeitante à biologia da dominância cerebral. Num trabalho anatómico que abrangeu 100 cérebros de indivíduos normais, dissecados de maneira a abrir o rego de Sylvius, estes autores estudaram a superfície triangular situada atrás da área auditiva primária, o planum temporale, e mostraram que esta era nitidamente mais desenvolvida do lado esquerdo em 65% dos cérebros. Nos outros casos, por sua vez, esta estrutura apresentava-se simétrica ou ligeiramente assimétrica a favor do lado direito. Sublinhando que esta área cortical se integra na chamada área de Wernicke, que tem um papel preponderante nos aspectos sensoriais da linguagem (mas apenas no hemisfério esquerdo), Geschwind sugeria que talvez esta assimetria seja o suporte morfológico da assimetria funcional da linguagem, conhecida desde os tempos de Dax e Broca (mais de um século antes).
Este estudo, na verdade, constituiu-se como que um ponto de partida para a exploração de outras assimetrias estruturais, partindo-se da hipótese de que se a assimetria do planum temporale pode ser relacionada com a dominância do hemisfério esquerdo para a linguagem também outras possíveis assimetrias se poderão correlacionar com a lateralização de outras funções hemisféricas.
A teoria de Geschwind baseia-se então no postulado de que a dominância cerebral está fundamentalmente ligada à existência de assimetrias anatômicas em geral e de que em particular a dominância do hemisfério esquerdo para a linguagem tem um laço essencial com a assimetria do planum temporale . Admitindo a existência, na maioria dos indivíduos, duma tendência para a dominância do HE para a linguagem e para a lateralidade manual, Geschwind imaginava, no entanto, que em certas circunstâncias, (nomeadamente diversas influências hormonais, como a maior ou menor quantidade de testosterona durante o período de gestação), esta tendência podia ser contrariada, diminuindo o grau de assimetria, admitindo mesmo que esta dominância se poderia estabelecer de forma aleatória numa parte da população.
Uma visão global
Em termos globais, uma análise dos processos cognitivos parece assim indicar que mesmo as funções mais complexas do cérebro são localizadas. No entanto, a questão da função ser uma propriedade localizada ou uma propriedade do conjunto do sistema nervoso parece ser uma questão dialética, dependendo a resposta do interesse do pesquisador e da abordagem experimental particular.
A verdade é que as modernas técnicas de neuroimagem, que nos permitem observar in vivo o funcionamento do cérebro em tempo real, durante a execução de tarefas cognitivas ou comportamentais, levam-nos hoje à visão integrada de um cérebro entendido como um super-sistema de sistemas, organizado numa dupla vertente de especialização e integração. Neste sentido, nenhuma parte do sistema nervoso funciona do mesmo modo isolada como o faz com as outras partes em interação e, ao mesmo tempo, mesmo nas tarefas simples múltiplas áreas do córtex são ativada em simultâneo.
A história da lateralização hemisférica ainda não terminou. No entanto, poderemos talvez concluir, para já, que não há um hemisfério "dominante" e outro inferior ou "dominado". O que há é dois hemisférios complementares, necessitando um do outro na realização de tarefas desde as mais simples atividades reflexas até aos mais elaborados raciocínios ou atos de criação artística.