
A memória traz em si um filtro poderoso para nos possibilitar esquecer, senão enlouqueceríamos, explica Ivan Izquierdo, neurocientista, pesquisador da UFRGS, autor de “Questões sobre memória” e “A arte de esquecer” (Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 21.ago.2004, Revista Vida, n. 37, p. 16). O aspecto mais notável da memória é o esquecimento, diz James Megaugh, professor de neurobiologia da Universidade da Califórnia. A formação e a evocação de memórias ocupam muitas células neurais, e torna-se preciso liberar espaço. Esse espaço é saturável, diz Izquierdo, e é impossível medi-lo.
A ciência divide a memória em vários tipos, segundo a duração e o conteúdo das lembranças. A mais efêmera chama-se memória de trabalho, com duração de segundos ou minutos após um evento. Dura apenas o necessário para realizar uma tarefa. A memória de curta duração dura de uma a seis horas. A memória de longa duração promove modificações bioquímicas em diversas regiões cerebrais para possibilitar o arquivo permanente.
As memórias de longa duração podem ser subdivididas: 1) declarativas; e 2) procedurais ou não-declarativas.
As memórias declarativas podem ser exprimidas verbalmente. Subdividem-se em memória epsódica (de momentos marcantes, associados a estados emocionais) e em memória semântica (um conhecimento memorizado ao longo da vida, mas sem associação a um evento específico: Brasília é a capital do Brasil).
As memórias não-declarativas não podem ser verbalizadas. Também subdividem-se em duas: a memória do condicionamento (faz-nos frear ao sinal vermelho) e a memória de hábitos (por se repetirem tanto, as atividades tornam-se automáticas: caminhar, andar de bicicleta).
Três fatores colaboram para uma memorização eficiente: a atenção, a motivação para realizar determinada tarefa, no caso de aprendizado, e a carga afetiva ou emocional, explica Ricardo Oliveira de Souza, neuropsiquiatra. A melhor ‘ginástica’ para o cérebro é uma atividade intelectual prazerosa, diz ele. Em adultos sem doenças neurológicas e jovens, a queixa de memória ruim geralmente se deve a distúrbios de ansiedade ou estresse, diz Ricardo.
Com o passar dos anos, as lembranças mais antigas ficam mais nítidas em relação às recentes, pois foram fixadas num tempo com melhor funcionamento das conexões neurais, explica Sérgio Schmidt, neurofisiologista. Nenhuma substância tem eficácia comprovada para melhorar a memória, diz ele.
Existem pessoas com 80 anos e memória fantástica, e jovens com dificuldade de lembrar, observa Izquierdo. Ninguém precisa de remédio para a memória. A leitura é uma espécie de natação para o cérebro. Exercita a memória, a só tempo, em suas várias faces: de trabalho, de longo prazo, visual, auditiva, a linguagem e a criatividade. A TV seria como um ‘fast-food’, pois apresenta informações prontas, digeridas.
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O cérebro é estimulado pela atividade, ou seja, quanto mais se memoriza conteúdo, mais ele é capaz de armazenar informações, de acordo com Geraldo Possendoro, psiquiatra e pesquisador em psicobiologia na UNIFESP (Folha de S. Paulo, São Paulo, 08 ago. 2006, Fovest - Especial, p. 3/4).
O armazenamento da informação deve ser resistente. A repetição do conteúdo melhora a memorização, segundo Ana Alvarez, fonoaudióloga, doutora em ciências, autora do livro ´Deu branco`. Muitas vezes, a pessoa acha ter dificuldade de memorizar, mas, na verdade, o problema está no entendimento da matéria. O problema do ´branco´ (continua Ana Alvarez) pode acontecer por ansiedade, nervosismo ou estresse, como o medo de falhar e a pressão colocada pelas pessoas sobre si mesmas (id.).
Quanto mais a pessoa fazer associação, mais facilidade terá para lembrar, diz Sonia Brucki, neurologista, integrante do grupo de neurologia cognitiva e do comportamento do Hospital das Clínicas de São Paulo. Relacionar ajuda a gravar fatos (id.).
O estudante deve ir para a prova centrado na razão, e não no lado emocional. Se a energia está muito voltada para o emocional, o cérebro não consegue desenvolver o cognitivo, afirma Maria Irene Maluf, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia (id.).
São dicas para evitar o ´branco´: 1) antes de começar a prova, faça um breve relaxamento, respirando profundamente; 2) comece pelas questões envolvendo os assuntos sobre os quais tenha mais domínio; 3) procure lembrar-se do contexto no qual aprendeu a matéria (o professor, a aula); 4) mantenha a serenidade, pois o pânico só aumenta a descarga excessiva de adrenalina e gera mais problemas para o cérebro; 5) ler num ambiente calmo, manter a atenção voltada ao estudo e dormir bem podem ajudar na memorização das matérias; 6) tentar relembrar o conteúdo depois de estudar, fazer exercícios e repetir em voz alta são formas de testar se as informações foram bem fixadas (id.).
Os tipos de memória são: 1) memória de curto prazo e memória de trabalho; 2) memória de longo prazo, subdivida em (2.1.) explícita e (2.2.) implícita (memória para procedimentos, como andar de bicicleta, jogar futebol, dar nó em gravata). A memória de longo prazo explícita abrange: (2.1.1.) episódica (armazena eventos relacionados ao tempo) e (2.1.2.) semântica (armazena conceitos e significado de palavras) (id.).
Constitui desafio para os neurocientistas compreender o mecanismo cerebral pelo qual se ligam cerca de 100 bilhões de neurônios, organizados em unidades maiores para armazenar ou alterar as memórias.
A memória imediata do ser humano pode envolver-se com sete informações ao mesmo tempo, mas apenas uma delas irá transformar-se em conhecimento adquirido, segundo o Massachusetts Institute of Technology (MIT).
Mnemósine, deusa grega da Memória, mãe das Musas, é a raiz de todas as artes humanas, da história à astronomia.
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